segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Festas, Estas e Outras

Tem vezes que por qualquer razão a gente não está em clima festivo, mas o tempo institucionalizado pra alguma comemoração chega.

Pessoalmente, não sou lá muito chegado a participar nem de tradições, nem de comemorações, principalmente das religiosas. Sempre digo: Religião? Pelo amor de Deus, N Ã Ã Ã Ã O!

Tenho cá meus motivos. Em verdade, muito em verdade, não sou ateu.

Só fujo feito o diabo da cruz daquelas intermináveis (e sempre inconcludentes) discussões sobre, por exemplo, a existência ou não de um ser de inteligência superior, criador do universo, justo, bom e tudo o mais, a que chamamos Deus.

A ideia de alguma divindade parece estar presente em todas as culturas de todos os lugares e tempos, sem exceção. Um fato.

Nada tenho absolutamente contra crença nenhuma, muito menos contra quem professe seja qual for a fé. Respeito-as todas e ponto. Admiro a beleza e reverencio a profundidade dos textos milenares que muitos consideram ou já consideraram sagrados, dos quais tive oportunidade de tomar conhecimento. Passei a vida inteira lendo e relendo-os. De certa forma promovo a edificação da minha pequena sabedoria com isto. E a Bíblia é, de longe, meu favorito. Acredito que só tive a lucrar com esse tipo de leitura. E só. Não adiro a nenhuma linha, não pertenço a nenhum grupo organizado ou não. Não propagendeio nem me oponho a nenhuma fé.

Escolhi conservar-me em pleno gozo das prerrogativas de livre pensador. Abrir mão da liberdade de pensamento é algo completamente fora de cogitação, para mim.

Sou apenas humano, finito, mortal como aliás todo mundo também é, independentemente de por que cartilha reze, de no quê acredite ou deixe de acreditar, e consequentemente de todos os desentendimentos teológicos e doutrinários que de Deus não me parecem ter absolutamente nada. Simples assim.

Quanto a chegar ao ponto de ter qualquer coisa prévia contra alguém que nem sequer conheço, nada me deve nem nada fez contra mim, só porque não compartilha de minhas ideias religiosas, Deus me livre e guarde disso. Falar em Deus e na maior cara de pau praticar todo tipo da mais doente intolerância em nome dele (como se a dizer: o meu é o único Deus certo e verdadeiro e eu sou seu emissário, e quero porque quero que todos me ouçam a mensagem inspirada e autorizada, concordem instantaneamente comigo e passem a fazer tudo conforme eu disser, ou vão pro inferno), é disso que estou definitivamente fora.

Este ano, para mim, o Natal teve o mesmíssimo número de horas que todos os outros dias, nele o sol nasceu no leste e morreu no oeste como de costume, houve nascimentos e mortes, risos e lágrimas, lucros e prejuízos, o mundo girou na mesma direção e à mesma velocidade que já girava há milênios, pra não falar da febre consumista, das comilanças, das bebedeiras, das tagarelices. Que diferença, afinal?

Quanto ao aniversariante, acredito que ele merece e pode ser homenageado não só no dia convencionado ad hoc, mas também em qualquer outro, e nas mais variadas formas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Caim, Caim!

Toca a labuta, filho, dá pouca atenção
ladrar ante a caravana, ah, se vão!
Nem pode dar outra, fazer o que?
Ladrar é coisa cão!

Ladram que ladram, cadê que mordem?
tão miseráveis, que só se ... coçam, de tão
mordidos que estão, de pulga, e daí
sua burra malcriação

O papel deles é esse mesmo, ladram
à toa, ladram a esmo, ladram
porque, afinal são cães, e jamais
de sê-lo eles deixarão

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Combustível

Isso que faço, esse verso
Espero ser compreendido
Como bastante modesto
Em todo e qualquer sentido

Em vez de Himalaia, duna;
De boa tinta, má cal.
Nada de fazer fortuna
Quer crítica, quer real

Quero apenas, a contento
Um pouquinho divertir
Não nutro qualquer intento
De um monumento erigir

Nem sei se essa minha obra
Vai ter número de tombo
Monumentos, tem de sobra
Cheios de caca de pombo

E você, leitor, nem queira
Fazer qualquer grande achado
Qualquer eira, qualquer beira
Nos versos de pé quebrado

Desiludo já de cara
Quem procura universal
Aqui. E o tempo não pára
Nunca, por bem nem por mal

Agora, diga pra mim
Quem foi que mandou me ler
Ciente que sou assim
E tendo mais que fazer?

Não diga! Estou lhe agradando?
Então não é sem querer
Pois quero, mas por enquanto
Com certeza é sem saber

Posso ter qualquer traquejo
E qualquer habilidade
Mas nada que dê ensejo
A ser, na posteridade

Lembrado por uns escritos
Na certa abaixo da média
Dos que serão incluídos
Em qualquer enciclopédia

E freqüentam lá seus grêmios
Com pretensões a granel,
Os literatos de prêmio
Do mais chué, ao Nobel

Não viso consagração
E nem essa tão vã glória
A vida, essa droga, eu não
Deixarei pra entrar na historia

Fez sentido esta alusão?
Surpresa, e também vitória
Pra mim, a contradição
De o país não ter memória

Memória, mesmo ruim
Até que ele tem. Mistério
É como um gigante assim
Consegue até não ser sério

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Volta ao Bonde em 90 Dias

29 de julho. E o nosso Bonde parou. Ele é puxado a burro, não sei se vocês já repararam. Literalmente. Pois empacou, de não ter santo que dê jeito.

Principalmente, andei atolado demais em trabalho por todo esse tempo, embora minha receita nem de longe em momento algum refletisse um aumento realmente proporcional a esse empenho praticamente suicida. Que nada! Certamente não há de ser por aí.

Hoje entrego com alguns minutos de atraso uma tarefa rotineira por e-mail esperada para as 14 horas e ainda não chegou outra. Tanto melhor. Pausa pra respirar. Retardo novamente a hora do almoço e venho aqui a esse espaço meu santuário só pra tocar o Bonde ao menos um trechinho adiante, senão os agora já 65 passageiros habituais acabam resolvendo fazer a pé mesmo os passeios que vinham fazendo nesse bonde. (meu profundo agradecimento de coração mesmo a todos, mais uma vez por favor desculpem-me as longas demoras em tomar conhecimento de cada um dos comentários e em respondê-los, e em retribuir cada visita) No varejo, tenho pedido paciência a alguns, mas reconheço: haja paciência.

Entre parentes, amigos próximos, colegas de trabalho, enfim no meu espaço de vida, são bem poucas as pessoas que cultivam o hábito de ler e praticamente ninguém mesmo me lê. No tempo do papel e caneta eu nunca tive quem compartilhasse minha produção. Ficou uma coisa eremita demais meu escrever, e totalmente sem rumo além de totalmente sem propósito.

Quando não sem surpresa descubro na que blogosfera existe quem me leia (e aprecie), achei que mesmo já sendo um cinquentão ainda faria sentido inaugurar uma nova fase altamente produtiva na vida, em que me dispunha a simplesmente escrever pelos cotovelos pra ver no que daria.

Em 2008, o blog Veleidades no extinto Globo Onliners tornou-se a menina dos meus olhos. O leitorado de então foi se chegando e comentando cada escrito postado e me dando tanto incentivo, tanto carinho, que eta! cheguei a entusiasmar-me, sim.

Mas o Globo Onliners saiu de repente do ar, em maio passado. Muita gente de lá que conheci pelo menos virtualmente migrou pra cá, pro Blogspot, onde eu já mantinha este blog. Essa acorrência aumentou bem o movimento daqui do Bonde. Vários dos meus habitués são também ex-GOs. Nem tudo estava perdido, então. E o Bonde andava, e muito bem, obrigado.

Desmembrei-o em outros blogs para separar assuntos (Lexicografia) ou exercitar meu poliglotismo (Me and my English, En français aussi, pourquoi pas?) deixando o Bonde exclusivamente para minhas generalidades expressas em português. Vislumbrei escrever em outras línguas também, como exercício possivelmente interativo. Seria dar a cara a tapa na blogosfera, criar expectativas de desempenho que só se desse pra não fazer mais nada eu seria capaz de atender. Mas também poderia constitui-se em prova incontestável de competência a meu crédito, o qaue me interessaria, sim, e a longo prazo ainda viria a ser de outras serventias. As línguas que passei a vida toda estudando elas EXISTEM, sim. Quem as fale também. Simples, não? Pois há quem não entenda sequer isso. Enfim, acabaram ficando mesmo só na intenção esses outros blogs irmãos (ou filhos) do Bonde. Um blog em italiano, outro em espanhol, um sobre o defunto latim que por falta de exercício está morrendo também mais outra vez - o meu latim. Quem sabe um dia ainda retome esses mirabolantes planos.

Pode ser que pela blogosfera seja veiculada uma profusão de ideias quiçá úteis para o universo de quem lê. Elas fervilham em mim, ociosamente, às vezes, querendo porque querendo "sair pra fora", ganhar mundo virtualmente. Porém as mais das vezes elas elas se reprimem, encolhem e recolhem à própria inutilidade.

Vejam, ilustres passageiros: estou voltando.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Orkut

Conheci o Blogspot e iniciei-me como blogueiro através do Orkut.

Tenho pouco mais de um ano por lá, portanto ainda posso considerar-me um neo-orkuteiro de carteirinha.

Comuniquei-me pelo Orkut com uma porção de gente legal à beça, a começar por meus filhos.
Entrei nalgumas comunidades de lá e gostei de ver que há gente bem informada e de muito bom gosto, inclusive gente jovem. Confirmação de que nem tudo está perdido. Gente séria, também. Gente claramente do bem.

Entretanto, também existem certas criaturas das trevas que se divertem de um jeito inaceitável, ridículo, do mal, criminoso, espalhando vírus ao se passarem por mim, por exemplo. Eles usam minha foto e meu nome como fakes e saem incomodando pessoas por quem tenho a maior estima e consideração, dando inclusive prejuízos com seus malditos vírus. É o que essa gente tem pra oferecer, não é? É o que essa gente quer da vida, não é? Pobres diabos!

Gente com essa mentalidade é claro que é gente completamente sem noção. Sem noção de quem são, sem noção de por quem estão tentando se passar, sem noção do que estão fazendo, sem noção do que realmente ganham com esse tipo de divertimento tão abominável e tão pernicioso que presumivelmente sem qualquer benefício praticam, e sem noção principalmente do que no final das contas vão acabar perdendo, por causa desta atividade praticada assim, por pura molecagem.

Essas criaturas das trevas acreditam que poderão agir sempre indetectadas e se divertir muito desse jeito. Não sabem mesmo de nada. Eu por enquanto nada posso garantir neste sentido mas estou convencido de que estas criaturas abomináveis e das trevas ainda serão apanhadas.

Não sinto mais tanta satisfação em usar o Orkut como site de relacionamento, ciente de que estas criaturas desqualificadas, das trevas, não largam do meu pé. Um desses fakes já prejudicou inclusive meu filho mais novo, meu homônimo. Cismaram mesmo comigo. Sou sempre muito respeitoso com todas as pessoas com quem lido seja real, seja virtualmente. Deve ser por causa disso mesmo essa incansável perseguição que vem tão de baixo mas acaba de algum jeito atingindo.

A certa altura do campeonato, vi todos os recados e todas as fotos sumirem da minha página no Orkut. Pensei com meus botões: que bagunça está isso aqui, hein? Qualquer um entra e faz sua festinha, não há qualquer segurança. Depois, algum desses "engraçadinhos" começou a se passar por mim e com um papo furado sobre algum concurso de fotografias enganou inclusive gente séria que em boa fé, ao ver meu nome e minha foto num recado do Orkut, clicou onde essa criatura das trevas queria que clicasse para passar vírus e, claro, teve problemas.

Falo por exemplo de meus amigos virtuais relativamente recentes, que muito prezo e estimo. Falo também de velhos amigos pessoais que tenho no Orkut. Um deles é o respeitável detentor de uma imensa e admirável bagagem musical e obstinadamente produz praticamente sozinho, por conta própria, coisa de que a cultura brasileira anda lamentavelmente carente: música de ótima qualidade. Esse aí eu só conheci há pouco mais ou menos um ano no agora extinto Globo Onliners, e é pessoa que muito respeito e admiro, pelo artista e erudito que é, e foi incomodado por essas reles criaturas das trevas.

Outro que sei é um amigo praticamente de infância, pouca coisa mais novo que eu, que é um biólogo doutorado e professor universitário. Parece que essa criatura das trevas o incomodou também. E houve mais outros casos.

Onde é que nós estamos? Que providências podem ser tomadas para que esse tipo de ação praticada por gente cuja única finalidade é incomodar e prejudicar pessoas do bem seja detectada, contida e exemplarmente punida? Ainda não sei. Mas eu descubro, é só uma questão de tempo. Já falei com gente que talvez possa me ajudar nessa ridícula circunstância.

Enquanto isso, fica o alerta para todos os passageiros desse Bonde que também me conheçam via Orkut. Cuidado. Se aparecerem com qualquer conversa fiada com minha foto e em meu nome, conversa totalmente desvinculada do que seja nosso assunto costumeiro e principalmente em péssimo português, claro que não serei eu. Desconfie e apague. Provavelmente é vírus que essas criaturas das trevas ainda estão tentando espalhar. Eles não cansam e devem estar adorando conseguir se passarem por mim.

Por enquanto, se eu tiver recados para passar pelo Orkut este conterá qualquer coisa que indubitavelmete me identifique. Por exemplo, cultura, bom gosto, seriedade, utilidade, consequência, propriedade, bom senso, boas intenções, sinceridade, adequação, RESPEITO, conhecimento de causa, verdade, bem, conteúdo. Este então será o verdadeiro, pode manter o recado, pois contém estas coisinhas que esse tipo de gente jamais conseguiria imitar para tentar incluir em suas rasteiras mensagens tão vazias, tão pobres, tão mal intencionadas, tão ridículas.

Atenção, portanto, colegas orkuteiros, que a gente ainda pode acabar pegando o diabo pelo rabo. O que vem daí sempre se denuncia em tudo, não dá pra confundir, não são coisas que se misturam tão fácil. Não são mesmo!

Até um melhor momento.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Escova, Toalha e Chinelos

Assim que encerrar a rotina de trabalho hoje, eu voo pra um lugar onde vou pernoitar.

Lá já sei encontrar uma recepção que não deixa nada a desejar.

Talvez comece a ler algum dos tantos livros que me interessa ler, principalmente se em compartilhamento. Há inclusive várias opções de língua, o que acho coisa excelente.

Tem um velho violão aposentado, teimoso como quê pra pegar afinação. Ontem ginastiquei bastante os dedos nele. Tem sempre aquelas boas vindas quer explícitas quer tácitas que me anfitrionam de um jeito pra lá de especial.

Tem projetos que demandam continuidade, prosseguimento, com prazo para o resto da vida (tomara que dê).

Lá não moro, mas namoro. E tenho tudo isso. Escova, toalha e chinelos.

sábado, 20 de junho de 2009

Do Contra

Sou contraponto
contrarregra
contrapiso
contra tudo
que é motivo
pra me desassossegar.

É, dignifica
trabalhar,
e ao fim de todo
santo mês
o resultado
indignado
me deixar?

O contracheque
mais parece
nada consta,
atestado
de pobreza
pela dura
ralação.

Pois toda essa
dignidade
tão barata
mais valia
ser chamada
de uma vez
escravidão.

Não tem saída
pois correndo
bicho pega
e ficando
não dá outra
brincadeira
não é não.

Problema mesmo
nem é tanto
por aquele
malfadado
particípio,
você sabe,
mas a parte
do e mal pago.
Essa não!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

REENCONTRO


Outra Veleidade que saiu no GO (29/09/2008)



Nada tiraria,
nada, nesse dia,
toda essa alegria
do meu coração:
Hoje eu vi João!
Hoje eu vi João!

Quero uma harmonia
rica de poesia
para qualquer dia
pôr numa canção
Já que vi João!
Já que vi João!

Fico embevecido
vendo-o tão crescido
vendo-o tão bonito
vendo-o um rapagão
Como vi João!
Como vi João!

Fez o meu retrato
muito bem, de fato
Eu fui retratado
a tocar violão
Por você, João!
Por você, João!

Talentoso é
pode, se quiser
no desenho ter
uma profissão
Se quiser, João!
Se quiser, João!

Logo, Joãozinho
com irmão e tio
segue seu caminho
volto à solidão
Mas eu vi João!
Mas eu vi João!

A felicidade
ganhou, de verdade
visibilidade
com explicação:
É que eu vi João!
É que eu vi João!

Cantar, bem queria
pudesse, o faria
a voz soltaria
todo afinação
Pra você, João!
Pra você!

(15 de julho de 2006. João tem apenas 11 anos. Ele faz o desenho e inspira os versos acima)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Adeus, Veleidades?

Tive um blog assim chamado, Veleidades. Era publicado no Globo Onliners. Nele iam minhas veleidades literárias, sim, como aqui também, no Bonde Andando.
Mas o Globo Onliners saiu do ar, e lá se foi meu blog, lá se foram todos os demais blogs que eu visitava, lia, comentava lá.

Muitos de meus contatos de então migraram aqui para o Blogspot. Com isto, vi aumentar bruscamente o movimento neste Bonde e também nos outros que aqui escrevo. A debandada dos amigos serviu para agitar a cena por estas bandas.

Ainda vou reprisar aqui alguma coisa já postada lá, o que aliás já vinha fazendo aleatoriamente. Hoje segue o primeiro post do blog agora extinto:


I - Inaugurando meu blog, mesmo sem inspiração
19/05/2008 - 19h29m

Hoje decidi inaugurar meu blog.

Não em grande estilo, como pretendi desde o início, pois estou sem a Inspiração, que esperei por todo este silêncio. Ela não veio espontânea. Quem sabe fui eu mesmo que não soube convidá-la. Ou então foi ela que trocou de mal comigo? Sei lá. Pra ela, só digo agora, à Pink Floyd: “I wish you were here”.

Mas, afinal, que blogueiro sou eu, que continua aí de blog virgem esse tempo todo? A Inspiração tem todo o direito de dar o ar de sua graça a quem bem entenda. Lamentavelmente, ao que parece, ela cismou de não querer dar mais pra mim. Pobre de mim, sem ela. Quem sabe eu tenha feito ou dito qualquer coisa e então ela ficou desse jeito aí comigo. Como é que eu vou saber? Acho que já tentei todo o possível, todo o pensável, mas nada. Elogiei-lhe os cabelos, simulei interesse no que ela estava vestindo (ela sabe muito bem que eu não consigo apreciar devidamente o que quer que ela esteja vestindo, já que sempre a prefiro nua, mas este fingido interesse às vezes cola, né?). Disse-lhe (inclusive sem mentira nenhuma) que gosto dela, que a amo, que sem ela minha vida não tem graça nem sentido. Nada. Ah, essas mulheres!

E ela está me fazendo uma falta! Aí eu resolvi inaugurar meu blog assim mesmo, de qualquer maneira. Mas estou esperançoso de ela ainda perceber este esforço que estou fazendo, de ela me compreender as intenções, que são tão boas quanto eu consigo... São boas mesmo, pode crer.

Tá vendo aí? Mesmo sem você, Inspiração, estou conseguindo escrever um tiquinho que seja. Claro que estou basicamente esticando desnecessária e maçantemente minhas orações (des)coordenadas, neste momento de íntima confusão. Nem tanto é por falta de o que dizer ou de saber como. Só que está saindo uma coisa toda descabida e desengonçada. Agora, saindo está, pelo menos, e isso já é o quanto basta, por ora.

Não tenho ainda leitorado certo, é claro, nem estou tão certo assim de que terei. É ver pra crer. Mas acho o GO uma boa tribuna, para onde eu posso levar as poucas bandeiras das quais a essa altura do campeonato ainda não desisti. Um bom púlpito, de onde posso pregar as poucas coisas nas quais ainda acredito. Ou até uma boa bigorna, onde posso meter o malho nas tantas coisas que ainda me dou o trabalho de malhar. Sei lá. Tem quem use blog para praticamente qualquer finalidade, desde mostrar fotos e vídeos de seus animais de estimação, por exemplo, até expor alguma produção artesanal ou artística. Tem quem use blog para os mais variados fins. Um blog pode vir a ser uma infinidade de coisas. Este aqui será, principalmente, o veículo das minhas palavras.

Contar aqui minhas peripécias de tradutor freelancer não me parece a melhor pedida. De repente, também posso mudar de idéia e fazer deste blog um recanto destinado a intelectuais, e aqui escrever pra eles, ou seja, condenar meu blog a ter um número bem reduzido de leitores. E ainda por cima, na melhor das hipóteses, arranjar um leitorado pra lá de exigente em termos qualitativos. Será que eu agüento isso?

Talvez venha a postar os poemas que escrevo nas horas vagas. Pelo menos os escritos em português. Isso até tem quem leia. E comente, também. Honestamente, eu mesmo não os acho tão bons assim. Por isso mesmo, jamais me esforcei por publicá-los onde quer que seja. Arrisco-me vez em quando a versejar em francês, em inglês. Só que não mostro quase nunca. É um exercício só pra fazer alguma coisa com meu poliglotismo e com o que aprendi nos tantos tratados de versificação que por décadas andei lendo. O único francês com quem tenho contato pessoal no momento, um colega tradutor, leu alguns versejos meus em sua língua e me disse por e-mail que gostou. Talvez fosse hora de produzir mais e mostrar pros francófonos que não conheço. Sabe-se lá. Eles são muitos, são milhões, e quem sabe aí não esteja uma chance de mais alguns gostarem, o que de fato me motivaria a continuar.

Tudo isso não passa de maluquices minhas, enfim. Com os versos que escrevo em inglês dá-se exatamente o mesmo. Não mostro porque não tenho pra quem mostrar, principalmente.

Já os versos em português, essa é uma história um pouco mais complicada. Praticamente não tenho a quem mostrar pessoalmente, também, embora resida num país onde esta é a língua falada. É que eu não convivo com praticamente ninguém que aprecie versos. Muito menos ainda os meus. Eles geralmente obedecem a metro e rima, sim, mas será que é só por isso?

Bem, estou com o Sérgio Bittencourt, que disse numa de suas canções: “ninguém é poeta por saber rimar”, ou alguma coisa quase assim. Estou citando de memória, e a canção é de um tempo em que eu mal deixara de ser caso pediátrico. Ou seja, faz é tempo.

Estou com 51 anos. Nasci no início do governo Juscelino, em Porto Alegre, RS. Porto Alegre agora é um passado bem remoto. Sou um gaúcho acidental, filho de baiano com mineira. Tenho inclusive um irmão mais velho e um casal de irmãos mais novos também gaúchos por acidente, como eu. Moramos todos hoje em outro Rio, que nem é Grande nem é do Sul, mas de Janeiro. Baixada Fluminense, a maioria.

Mas por enquanto é o que basta. O blog já está devidamente inaugurado. Dias melhores virão. A própria inspiração para escrever pode ser que ainda volte. Voltando ou não, o hábito de escrever carece de exercício. Pra isso eu já posso agora prescindir do velho método do lápis (com borracha e tudo) e papel, bem como da velha e inexorável gaveta como destino certo ou mais provável do que for saindo. Chega disso, então. Agora, pelo menos, já existe este blog.

sábado, 18 de abril de 2009

Expectativa

Que festa de vida
Que enlevos e assuntos
Podemos, querida
Ter ambos, se juntos

Por termos vivido
Do meu, do seu lado
Por termos querido
E experimentado

Sofrido e, gozado,
Achado: valeu!
De um, do outro lado
Você, como eu

Que outro sorriso
Revela um resíduo
De mim? Eu preciso
Revê-lo, e convido-o

O nosso desejo
É fogo, é maduro
Que arde, mas vejo-o
Em paz no futuro

Que águas passadas
Moverão moinho
Assim sufocadas
Em tanto carinho?

Um dia seremos
Só nós, e o prazer
Depois, nem teremos
Mais como esquecer

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

E Agora, Mulher?

Diga-me, pois então, o que mais poderia significar aquele sorriso alumbrado, com aquela tão conspícua, tão genuína alegria que logo ao me ver você abriu, como um presente especial que exclusivamente para mim guardara, e me entregava com todos os requintes de naturalidade, caso contrário, ficarei indefinidamente com a única interpretação que naquele instante me ocorreu como possível.

E seu olhar, como a espelhar bem lá do fundo da própria alma aquela indisfarçada satisfação absolutamente doadora e absolutamente feliz, o que mais poderia significar? Diga-me agora, se não estiver integralmente correta a única conclusão que para mim foi possível tirar.

Ao desnudar-se, corretamente quase nem um pouquinho encabulada com nada, naquela incalculada vagareza que queria dizer - e dizia - tanto, tanto, você era um só clamor, tácito e uníssono, em ré maior: É TUDO SEU! Foi ou não foi? É ou não é?

Tudo terminado, novamente você naquele mais-que-perfeito, todo elegante recompor-se, ainda com aquele mesmíssimo sorriso irradiante, aquele mesmíssimo olhar que já no semblante denunciava uma serena saciedade profundamente inculpe, ambos perfeitamente ainda disponíveis, perfeitamente ainda meus, ainda lá, em você, decerto que para ficar, de recordação, comigo. Claro, ficaram sim.

Todos os inequívocos desmentidos que porventura você ainda venha a me fazer, ainda que com igual ou maior eloquência, em gestos, e atos, e palavras quer implícitas, quer proferidas em alto e bom som, terão de valer, também, pela força da verdade que encerrarem, quando (e se) você os fizer, mas só para deste futuro então por diante.

Em tal caso, no entanto, você poderá tomar como pra lá de certo que ainda será de alguma forma grata em minha lembrança a evocação de que um dia, sem saber nem suspeitar que pudesse ser mais uma das incontáveis mentiras acreditadas, eu tive por expressão da mais pura verdade, de tão verossímil que tudo quis afigurar-se-me nesta afoita conclusão atual, a de que você verdadeira, inquestionavelmente me ama.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

MORCEGO

Morcego, sé, guia, tia bem sua
porta-elefante deste lá adubar.
Sofrido norte: há sul! Vácuo só! Tem
que sustentar, xi!, sem
nem mais como isto dar

A lei já disse, não. É, nada, anão!
Fazendas, tri, paz, com décor, ação.
Ache uva, Caio! O escuro é seu, só vendo,
é gente e silfo. Dentro
soprava ar e ar

Me dê licença, eu quero pala lá
não sei se pó, se pé, se desce e dá.
Dia de folga, todo paz a nado
eu fico dez casado
e sou é de ficar

Vi vinha, baga, acará que em mar há
fá e si só não, não me diz: “perde, sai!”
Marquei Maria, Bia por um triz,
posso até estar feliz
mas só se o “sim” for cá