Recolhi-me durante este carnaval. Fora umas poucas visitas de praxe e família, uma ou outra excursão a algum estabelecimento comercial aberto, não saí.
De casa, não quis tomar conhecimento dos desfiles das escolas de samba, grande atração do evento. Vi bem poucos informativos, mais interessado que estava em assuntos não carnavalescos.
Um goleiro acusado de assassinar sua amante e condenado em primeira instância a 22 anos de prisão foi solto porque recorrera e o recurso em quase sete anos ainda não tinha sido julgado. Entendeu o STF que era um tempo longo demais para uma prisão preventiva.
A CEDAE se acha em processo de privatização. Já vejo possíveis reflexos dessa manobra aqui, na Baixada Fluminense. Hoje deveria ter caído água para abastecer as casas da localidade, mas isso não aconteceu. Só não posso garantir que essa falha no abastecimento seja coisa diretamente associada ao processo de privatização desta empresa Estadual porque no meu município (Mesquita) já vi faltar água alegadamente por razões técnicas um bom número de vezes.
De carnaval propriamente dito, quase nada sei justamente porque não estou interessado em saber, mesmo. A grande festa carioca este ano não poderia ser mais indiferente para mim.
A única observação que não me escapou como relevante foi a de que muitos, mas muitos foliões daqui, dali e de acolá aproveitaram a oportunidade de pura diversão para mandarem uma mensagem política, mensagem essa que me pareceu praticamente ubíqua e unânime, apesar de receber pouquíssima cobertura midiática.
Bem, seja lá como for, havia um coro coro ao qual aproveito para aderir através deste blog:
Fora Temer!
quarta-feira, 1 de março de 2017
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
Subindo o Nível
Pedi a minha amiga Rosângela Vieira Rocha a devida permissão para transcrever aqui uma postagem que ela publicou em sua página Facebook do dia 4 passado (É meu o itálico):
“Estou empenhada, junto com outras pessoas, incluindo a escritora Stella Maris Rezende, numa campanha com vistas a melhorar o nível das discussões por aqui. Pelo menos quanto às regras, que qualquer "jogo" tem: não ofender os interlocutores, expor as ideias sem entrar no terreno pessoal, não fugir do assunto, e muitas coisas mais. Aceitamos pessoas pra dar ideias e fortalecer essa nossa corrente. Penso que, se passarmos a repetir exaustivamente em postagens públicas o beabá de qualquer discussão civilizada, pode ser que lancemos alguma sementinha. Água mole em pedra dura... Quem sabe, não é? Temos de tentar e ver. Tudo isso em nome da civilidade, da urbanidade, da boa educação. E do bem-estar de todos, enfim”
Stella Maris, também minha amiga FB, manifesta-se a respeito disso nos seguintes termos, que também transcrevo abaixo, igualmente com a devida autorização dela (É meu o itálico):
“Vamos reaprender a discutir ideias! Sem ofender os interlocutores, como bem diz a querida Rosângela Vieira Rocha. Sem entrar no jogo do ódio, da hipocrisia, do cinismo e do egoísmo. Reaprender a trabalhar por um Brasil mais justo e mais digno, vamos? Não somos de desistir da vida, somos? Mesmo tristes e perplexos, vamos dar um revestrés nessa história toda, vamos? De que modo?! Vamos descobrir juntos. Juntos.”
Será que é mesmo assim, como nas palavras da Rosângela? Você já viu alguma troca de ofensas pessoais na internet? Eu já, e muitas. Até perdi a conta. Já viu alguma discussão ser levada claramente de propósito para o lado pessoal? Eu vejo isso o tempo inteiro. Já viu o tema tratado em alguma publicação ser desviado de forma busca e inequivocamente deliberada? Cansei de ver isso, também.
Teria razão a Stella ao se referir a ódio, hipocrisia, cinismo, egoísmo? A meu ver, abundam as instâncias em que estas palavras descrevem à perfeição o que vai por trás de um enorme número de “contribuições”.
Poderia facilmente recolher uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos contendo desses abusos em questão de minutos ali, no próprio Facebook, bem como em muitos outros lugares virtuais que conheço onde as pessoas têm espaço para comentar o que encontram publicado. É simplesmente estarrecedor. O nível geral anda muito abaixo do mínimo aceitável. Xingamentos em termos cujo calão talvez envergonhasse a própria Dercy Gonçalves por conta de alguma mera discordância de opinião são sintoma de que a comunicação interpessoal pela internet anda sofrendo contaminação num grau dificilmente suportável. O desrespeito brutal à pessoa humana virou fato tão corriqueiro que desagrada, desgosta e até choca quem ainda conserve um senso de adequação e respeito, de decoro, de urbanidade. Mas tudo isso facilmente lá se encontra e via de regra permanece.
Passo, portanto, a participar desta iniciativa de fato ambiciosa, mas muito honesta e bem motivada, colocando meus esforços e energias pessoais à inteira disposição dessa causa que reputo justa, nobre, elevada.
Este meu blog, por exemplo, sempre pareceu relativamente imune aos ataques importunos de pessoas que em outros lugares invariavelmente saem de seu precioso silêncio para fazer a mais vulgar trolagem, com objetivos absolutamente objetáveis, conseguindo muita vez fazer com que o nível do que se tenta discutir com dignidade e respeito simplesmente despenque, fato pra lá de comum e no mínimo lamentável.
Não faço nenhuma ideia de a que se deva exatamente esta imunidade, mas convenhamos que meu próprio modo de redigir minhas postagens, assim como a postura geral de meus comentaristas, são sempre altamente respeitosos. Até mesmo quando me revolto ou insurjo contra alguma coisa do momento, jamais desço ao nível de xingar ninguém, de dizer obscenidades gratuitas, nada mesmo. Deus me livre e guarde de qualquer coisa o mais minimamente parecida (ou o mais minimamente compatível) com isso. Talvez seja justamente por este motivo que os estragadores de festa sempre de plantão em tantos lugares virtuais aqui se deem conta de que não foram jamais convidados e percebam por si mesmos que o que têm a apresentar como contribuição destoa completamente de tudo e todos aqui, e me façam o grande favor (que aproveito logo o ensejo para agradecer) de irem "baixar noutro centro" com suas baixezas, suas rudezas, suas chulices, sua inconveniência proposital e tudo o mais que lhes é peculiar.
A partir de agora, este blog se coloca a serviço de um ideal que vislumbro com esperança. Isso mesmo: esperança. Venham examiná-lo e concluam se ele corresponde ou não ao que aqui afirmo. Comentem tudo o que considerarem pertinente. Queiram apresentar todas as correções, sugestões, criticas, de seja que investidura for. Mostrem-me por favor os posts ou mesmo pequenos trechos que pareçam em franca contradição ou desarmonia com as próprias regras que passarei a pregar como se eu aqui me encontrasse num púlpito, numa tribuna ou num palanque. Aceito de bom grado tudo o que aqui chegue e garanto desde já minhas boas vindas a todos os possíveis comentaristas que desta postagem tomem conhecimento.
Não ignoro o fato de que este blog goza de relativamente pouca visibilidade, tampouco o de que não seria nada realista de minha parte esperar que ele algum dia ainda venha a fazer sucesso de tipo estrondoso na blogosfera. Sei perfeitamente que sempre foram relativamente poucas as pessoas que o conhecem e visitam. Escrevo aqui apenas porque gosto de escrever. Sei que praticamente ninguém de meu convívio imediato costuma vir aqui. Foi surpresa para mim quando, faz poucos dias, vi de repente meu filho mais jovem (22 anos) lendo em seu tablet alguns escritos autorais em verso que tenho publicado num site de escritores. E ele no momento estava interessado. Tal interesse, até onde eu saiba, foi totalmente espontâneo, pontual e também um tanto atípico, inesperado mesmo. Aquele momento envolvendo ambos os Joões, o velho e o moço, foi nada menos que santo de casa fazendo o que realmente não costuma.
Sou tradutor profissional desde 1985. Há bastantes grupos de discussão para tradutores no mundo virtual. Eles prestam relevantes serviços, por exemplo aquele "S.O.S." quando se necessita de uma solução boa e urgente para algo que simplesmente não consta nos dicionários nem nas demais obras de referência à mão para o par de idiomas do momento, situação com que muito natural e corriqueiramente se depara quem traduz de forma habitual. Pois bem, acabei simplesmente abandonando vários destes grupos em que me inscrevera para dar e pedir ajuda de emergência por conta sabem do quê? Exatamente do péssimo comportamento que alguns colegas ali apresentavam. Era chegar com uma consulta ou resposta e aparecerem, em vez de comentários que realmente acrescentassem alguma coisa, brincadeiras de péssimo gosto e em linguagem que não depunha nada a favor de quem a estava empregando, inclusive frequentes xingamentos. E ali eram (ou melhor, são) profissionais, pessoas de quem jamais se haveria de esperar esse tipo de comportamento, ainda mais em público. Pensei então com meus botões: que é que eu ainda estou fazendo aqui? Respondi com ação. Simplesmente me retirei. Ponto.
Agora me surge essa proposta explícita de subir o nível, certamente motivada pelo repúdio a este estado de barbárie que se instalou em certos sites que bem poderiam de outra forma prestar serviços incomparavelmente melhores ao entendimento de coisas, à busca de solução para problemas e à própria satisfação da boa convivência, bem como por uma visão inspirada de que talvez nem tudo ainda esteja completamente perdido, de que ainda se possa recuperar espaços onde a deterioração e a poluição já fizeram estragos suficientes para empobrecer e desumanizar relações que poderiam ser totalmente outra coisa, e coisa muito, mas muito melhor.
Que conseguiremos a curto, médio ou longo prazo? Não há como predizer, nem com bola de cristal. Mas é certo que me disponho a participar desses esforços ainda incipientes e embrionários no sentido visado, o de elevar o nível geral das conversas abertas ao público pela internet. Conseguiremos tanto? Sei lá. A simples oportunidade de me alinhar com quem se propõe a contribuir para a criação ou recuperação de um ambiente virtual mais digno, mais respeitoso, mais acolhedor, onde se experimente bem mais prazer, se sinta bem mais utilidade e orgulho ao participar, só isto a meu ver já vale e longe a pena, não importa que resultados concretos ainda venhamos a obter. E é o quanto me basta. Vivamos e vejamos.
“Estou empenhada, junto com outras pessoas, incluindo a escritora Stella Maris Rezende, numa campanha com vistas a melhorar o nível das discussões por aqui. Pelo menos quanto às regras, que qualquer "jogo" tem: não ofender os interlocutores, expor as ideias sem entrar no terreno pessoal, não fugir do assunto, e muitas coisas mais. Aceitamos pessoas pra dar ideias e fortalecer essa nossa corrente. Penso que, se passarmos a repetir exaustivamente em postagens públicas o beabá de qualquer discussão civilizada, pode ser que lancemos alguma sementinha. Água mole em pedra dura... Quem sabe, não é? Temos de tentar e ver. Tudo isso em nome da civilidade, da urbanidade, da boa educação. E do bem-estar de todos, enfim”
Stella Maris, também minha amiga FB, manifesta-se a respeito disso nos seguintes termos, que também transcrevo abaixo, igualmente com a devida autorização dela (É meu o itálico):
“Vamos reaprender a discutir ideias! Sem ofender os interlocutores, como bem diz a querida Rosângela Vieira Rocha. Sem entrar no jogo do ódio, da hipocrisia, do cinismo e do egoísmo. Reaprender a trabalhar por um Brasil mais justo e mais digno, vamos? Não somos de desistir da vida, somos? Mesmo tristes e perplexos, vamos dar um revestrés nessa história toda, vamos? De que modo?! Vamos descobrir juntos. Juntos.”
Será que é mesmo assim, como nas palavras da Rosângela? Você já viu alguma troca de ofensas pessoais na internet? Eu já, e muitas. Até perdi a conta. Já viu alguma discussão ser levada claramente de propósito para o lado pessoal? Eu vejo isso o tempo inteiro. Já viu o tema tratado em alguma publicação ser desviado de forma busca e inequivocamente deliberada? Cansei de ver isso, também.
Teria razão a Stella ao se referir a ódio, hipocrisia, cinismo, egoísmo? A meu ver, abundam as instâncias em que estas palavras descrevem à perfeição o que vai por trás de um enorme número de “contribuições”.
Poderia facilmente recolher uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos contendo desses abusos em questão de minutos ali, no próprio Facebook, bem como em muitos outros lugares virtuais que conheço onde as pessoas têm espaço para comentar o que encontram publicado. É simplesmente estarrecedor. O nível geral anda muito abaixo do mínimo aceitável. Xingamentos em termos cujo calão talvez envergonhasse a própria Dercy Gonçalves por conta de alguma mera discordância de opinião são sintoma de que a comunicação interpessoal pela internet anda sofrendo contaminação num grau dificilmente suportável. O desrespeito brutal à pessoa humana virou fato tão corriqueiro que desagrada, desgosta e até choca quem ainda conserve um senso de adequação e respeito, de decoro, de urbanidade. Mas tudo isso facilmente lá se encontra e via de regra permanece.
Passo, portanto, a participar desta iniciativa de fato ambiciosa, mas muito honesta e bem motivada, colocando meus esforços e energias pessoais à inteira disposição dessa causa que reputo justa, nobre, elevada.
Este meu blog, por exemplo, sempre pareceu relativamente imune aos ataques importunos de pessoas que em outros lugares invariavelmente saem de seu precioso silêncio para fazer a mais vulgar trolagem, com objetivos absolutamente objetáveis, conseguindo muita vez fazer com que o nível do que se tenta discutir com dignidade e respeito simplesmente despenque, fato pra lá de comum e no mínimo lamentável.
Não faço nenhuma ideia de a que se deva exatamente esta imunidade, mas convenhamos que meu próprio modo de redigir minhas postagens, assim como a postura geral de meus comentaristas, são sempre altamente respeitosos. Até mesmo quando me revolto ou insurjo contra alguma coisa do momento, jamais desço ao nível de xingar ninguém, de dizer obscenidades gratuitas, nada mesmo. Deus me livre e guarde de qualquer coisa o mais minimamente parecida (ou o mais minimamente compatível) com isso. Talvez seja justamente por este motivo que os estragadores de festa sempre de plantão em tantos lugares virtuais aqui se deem conta de que não foram jamais convidados e percebam por si mesmos que o que têm a apresentar como contribuição destoa completamente de tudo e todos aqui, e me façam o grande favor (que aproveito logo o ensejo para agradecer) de irem "baixar noutro centro" com suas baixezas, suas rudezas, suas chulices, sua inconveniência proposital e tudo o mais que lhes é peculiar.
A partir de agora, este blog se coloca a serviço de um ideal que vislumbro com esperança. Isso mesmo: esperança. Venham examiná-lo e concluam se ele corresponde ou não ao que aqui afirmo. Comentem tudo o que considerarem pertinente. Queiram apresentar todas as correções, sugestões, criticas, de seja que investidura for. Mostrem-me por favor os posts ou mesmo pequenos trechos que pareçam em franca contradição ou desarmonia com as próprias regras que passarei a pregar como se eu aqui me encontrasse num púlpito, numa tribuna ou num palanque. Aceito de bom grado tudo o que aqui chegue e garanto desde já minhas boas vindas a todos os possíveis comentaristas que desta postagem tomem conhecimento.
Não ignoro o fato de que este blog goza de relativamente pouca visibilidade, tampouco o de que não seria nada realista de minha parte esperar que ele algum dia ainda venha a fazer sucesso de tipo estrondoso na blogosfera. Sei perfeitamente que sempre foram relativamente poucas as pessoas que o conhecem e visitam. Escrevo aqui apenas porque gosto de escrever. Sei que praticamente ninguém de meu convívio imediato costuma vir aqui. Foi surpresa para mim quando, faz poucos dias, vi de repente meu filho mais jovem (22 anos) lendo em seu tablet alguns escritos autorais em verso que tenho publicado num site de escritores. E ele no momento estava interessado. Tal interesse, até onde eu saiba, foi totalmente espontâneo, pontual e também um tanto atípico, inesperado mesmo. Aquele momento envolvendo ambos os Joões, o velho e o moço, foi nada menos que santo de casa fazendo o que realmente não costuma.
Sou tradutor profissional desde 1985. Há bastantes grupos de discussão para tradutores no mundo virtual. Eles prestam relevantes serviços, por exemplo aquele "S.O.S." quando se necessita de uma solução boa e urgente para algo que simplesmente não consta nos dicionários nem nas demais obras de referência à mão para o par de idiomas do momento, situação com que muito natural e corriqueiramente se depara quem traduz de forma habitual. Pois bem, acabei simplesmente abandonando vários destes grupos em que me inscrevera para dar e pedir ajuda de emergência por conta sabem do quê? Exatamente do péssimo comportamento que alguns colegas ali apresentavam. Era chegar com uma consulta ou resposta e aparecerem, em vez de comentários que realmente acrescentassem alguma coisa, brincadeiras de péssimo gosto e em linguagem que não depunha nada a favor de quem a estava empregando, inclusive frequentes xingamentos. E ali eram (ou melhor, são) profissionais, pessoas de quem jamais se haveria de esperar esse tipo de comportamento, ainda mais em público. Pensei então com meus botões: que é que eu ainda estou fazendo aqui? Respondi com ação. Simplesmente me retirei. Ponto.
Agora me surge essa proposta explícita de subir o nível, certamente motivada pelo repúdio a este estado de barbárie que se instalou em certos sites que bem poderiam de outra forma prestar serviços incomparavelmente melhores ao entendimento de coisas, à busca de solução para problemas e à própria satisfação da boa convivência, bem como por uma visão inspirada de que talvez nem tudo ainda esteja completamente perdido, de que ainda se possa recuperar espaços onde a deterioração e a poluição já fizeram estragos suficientes para empobrecer e desumanizar relações que poderiam ser totalmente outra coisa, e coisa muito, mas muito melhor.
Que conseguiremos a curto, médio ou longo prazo? Não há como predizer, nem com bola de cristal. Mas é certo que me disponho a participar desses esforços ainda incipientes e embrionários no sentido visado, o de elevar o nível geral das conversas abertas ao público pela internet. Conseguiremos tanto? Sei lá. A simples oportunidade de me alinhar com quem se propõe a contribuir para a criação ou recuperação de um ambiente virtual mais digno, mais respeitoso, mais acolhedor, onde se experimente bem mais prazer, se sinta bem mais utilidade e orgulho ao participar, só isto a meu ver já vale e longe a pena, não importa que resultados concretos ainda venhamos a obter. E é o quanto me basta. Vivamos e vejamos.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Breguices de que eu gosto
Deu-me agora na veneta vir aqui ao Bonde com esse título, a que deliberadamente dei lá um quezinho de gaiato.
Não sou nem nunca fui humorista, mas vez por outra me dá esse comichão de tentar fazer certas gracinhas, pra lá de ciente de que não sou nem um tiquinho engraçado. Sei disso desde quando, ainda em idade pediátrica, eu recontava as piadas que tinha ouvido, principalmente quando mais tarde as reouvia, só que... bem contadas. Minhas versões assim contrastadas normalmente ficavam devendo a própria essência do humor: graça. Naquela época, acho altamente improvável que para alguém eu pudesse soar sério, solene, impostado, pedante, como em fase adulta devo ter soado muita vez, ainda que sempre involuntariamente, fazer o quê, né?
Mas então, tudo o que aqui seguir será decorrência do título, recorrência a ele, digressão de minha parte com promessa de retomada do fio condutor ou o que mais bem queira ir saindo, como que automaticamente, no correr da pena.
Aliás, já sem pena nenhuma há muito. Quase não vejo mais, atualmente, minha própria caligrafia, creio que agora mais garranchosa ainda, em grande parte por conta da falta de exercício.
Digitar já é bem outra história. Tenho prática à beça nessa coisa, que venho exercitando bastante e há décadas, muito embora ainda seja tão mau digitador quanto o era no tempo em que a isto ainda se dava o agora insólito nome de datilógrafo, com minhas Remingtons e Olivettis de então. Não faço a mínima ideia da razão de eu ainda não ter um desempenho satisfatório, de profissional, neste caso, seja no quesito velocidade ou no correção. Sei apenas que falta de exercício é que não é, nem jamais poderia ser. Escrevi foi muito à máquina, por décadas e mais décadas a fio.
Nem imagino falta de quê, então. Mas se fosse tratar aqui de faltas, de carências, de insuficiências, do jeito que a coisa anda difícil em relação a encontrar trabalho ao menos decentemente remunerado, o título que escolhi seria absolutamente descabido.
Retomo-o então, pois. Vim hoje falar de certas breguices de que gosto, muito em especial de certas breguices musicais.
Minha classificação dessas canções como breguices obviamente nada pretende ter de 'oficial', longe disso. Nem sequer é do meu conhecimento a existência de qualquer indicador bregométrico, confiável ou não. Pois que sejam então breguices apenas algumas canções que eu, por inteira conta e risco próprios, considero, como direi, meio breguinhas, mas das quais, ainda assim, eu gosto. Naquela base do 'você artisticamente não vale nada, mas eu gosto e você e tudo o que eu queria era saber por quê".
Claríssimo está que não conto com (na verdade sequer espero) a concordância de algum leitor, no caso de alguém vir a ler o presente post nesse Bonde mais para parado do que seu nome sugere.
Minha ideia, então, não é de modo algum discutir o que é e o que não é brega. Aberto estou a todas as eventuais opiniões que se apresentem aqui, declarando à guisa de prolepse [ou resposta antecipada a objeções previstas, pra quem já esqueceu o que é isso] que as considero todas igualmente válidas, por mais conflitantes que se revelem entre si ou com a minha.
O espaço de comentários estará aberto e poderá ser utilizado para contestar, corrigir, opinar, etc. e tal, como aliás sempre esteve. A diferença é só que hoje optei por, já desde o titulo, ser um pouco mais provocador que meu habitual. Quem sabe não se trate de uma coisa não conscientizada que se deve ao fato de que já não compareço aqui há muito, que agora levanto essa (espero que) amena polêmica opinativa.
Faço isto sem preder de vista que principalmente em público ainda prezo muito minha costumeira neutralidade quanto à maioria dos temas polêmicos que vejo discutidos de foma absurdamente apaixonada internet a fora: política (argh!), religião, sei lá mais quantos desses temas essencialmente indigestos, a julgar pelo que observo nas tão exageradas reações. Pessoas chegam ao ponto de perderem toda a urbanidade e compostura, não raro por dê cá aquela palha, o que é muito lamentável, muito triste.
Retornando então a minhas breguices favoritas, lembrando de todas as devidas ressalvas que já fiz.
A primeira que me ocorre é esta:
http://www.youtube.com/watch?v=1ceVfQg7Z4o
A cantora é Joanna e a canção é Chama. Pois é, eu gosto mesmo dessa letra, e também da música e da interpretação dela. Quem não conhece talvez sequer perceba a breguice. Neste caso sugiro que se dê o trabalho de ouvir mais coisas do repertório desta artista e tirar suas próprias conclusões. Ah, também gosto de Vertigem, com ela.
Segue, pela ordem de chegada a minha lembrança, mais uma que é mui adequadamente das antigas, agora interpretada por Nilton César. Quem quiser conferir repare só nos 'erres' dele. A Namorada que Sonhei. Eivada à alma de legítima breguice em minha nada abalizada opinão bregológica, mas ao mesmo tempo assim bem bonitinha, sincera, de uma singeleza quase infantil, que me agrada o gosto ao ponto da excepcional inexigência. Mandei de presente minha própria interpretação dela ao violão, num solinho tecnicamente danado de ruim e super mal gravado, mas com intenção perfeitamente reconhecível, exatamente num dia dos namorados. E quem recebeu este 'presentinho' ainda me disse que gostou. e eu areditei, mesmo. A gravação que fiz ainda está nesse computador, só que nunca mais sairá dele pra lugar nenhum. Missão cumprida. Conservação por conta de minha leve síndrome de Diógenes. Que minhas breguices não saiam do âmbito doméstico a não ser em palavras, por exemplo em postagens sobre meu gosto musical. Eis a canção:
http://www.youtube.com/watch?v=pv3nodauhu0
Claro que o tema é perfeitamente retomável a qualquer momento, mas por ora já justifiquei meu titulo com essas duas canções e chega de escrever textão. Aos possíveis comentaristas lembro que discordar é seu direito. O mais provável é que eu continue achando breguinhas essas canções, não importa que argumentos se apresentem em contrário. Caso algum me convença, reformulo. E tenho por praticamente que continuarei gostando delas, sejam quais forem os argumentos com intenção dissuasiva.
Convido por fim aos possíveis leitores e comentaristas que também sugiram aqui o que em sua opinião forem boas canções bregas. Estou consciente dos riscos que corro, de fazer desta página uma bregolândia só, quem sabe cheia de canções que não gosto. Mas tudo bem, gosto não se discute mesmo.
Não sou nem nunca fui humorista, mas vez por outra me dá esse comichão de tentar fazer certas gracinhas, pra lá de ciente de que não sou nem um tiquinho engraçado. Sei disso desde quando, ainda em idade pediátrica, eu recontava as piadas que tinha ouvido, principalmente quando mais tarde as reouvia, só que... bem contadas. Minhas versões assim contrastadas normalmente ficavam devendo a própria essência do humor: graça. Naquela época, acho altamente improvável que para alguém eu pudesse soar sério, solene, impostado, pedante, como em fase adulta devo ter soado muita vez, ainda que sempre involuntariamente, fazer o quê, né?
Mas então, tudo o que aqui seguir será decorrência do título, recorrência a ele, digressão de minha parte com promessa de retomada do fio condutor ou o que mais bem queira ir saindo, como que automaticamente, no correr da pena.
Aliás, já sem pena nenhuma há muito. Quase não vejo mais, atualmente, minha própria caligrafia, creio que agora mais garranchosa ainda, em grande parte por conta da falta de exercício.
Digitar já é bem outra história. Tenho prática à beça nessa coisa, que venho exercitando bastante e há décadas, muito embora ainda seja tão mau digitador quanto o era no tempo em que a isto ainda se dava o agora insólito nome de datilógrafo, com minhas Remingtons e Olivettis de então. Não faço a mínima ideia da razão de eu ainda não ter um desempenho satisfatório, de profissional, neste caso, seja no quesito velocidade ou no correção. Sei apenas que falta de exercício é que não é, nem jamais poderia ser. Escrevi foi muito à máquina, por décadas e mais décadas a fio.
Nem imagino falta de quê, então. Mas se fosse tratar aqui de faltas, de carências, de insuficiências, do jeito que a coisa anda difícil em relação a encontrar trabalho ao menos decentemente remunerado, o título que escolhi seria absolutamente descabido.
Retomo-o então, pois. Vim hoje falar de certas breguices de que gosto, muito em especial de certas breguices musicais.
Minha classificação dessas canções como breguices obviamente nada pretende ter de 'oficial', longe disso. Nem sequer é do meu conhecimento a existência de qualquer indicador bregométrico, confiável ou não. Pois que sejam então breguices apenas algumas canções que eu, por inteira conta e risco próprios, considero, como direi, meio breguinhas, mas das quais, ainda assim, eu gosto. Naquela base do 'você artisticamente não vale nada, mas eu gosto e você e tudo o que eu queria era saber por quê".
Claríssimo está que não conto com (na verdade sequer espero) a concordância de algum leitor, no caso de alguém vir a ler o presente post nesse Bonde mais para parado do que seu nome sugere.
Minha ideia, então, não é de modo algum discutir o que é e o que não é brega. Aberto estou a todas as eventuais opiniões que se apresentem aqui, declarando à guisa de prolepse [ou resposta antecipada a objeções previstas, pra quem já esqueceu o que é isso] que as considero todas igualmente válidas, por mais conflitantes que se revelem entre si ou com a minha.
O espaço de comentários estará aberto e poderá ser utilizado para contestar, corrigir, opinar, etc. e tal, como aliás sempre esteve. A diferença é só que hoje optei por, já desde o titulo, ser um pouco mais provocador que meu habitual. Quem sabe não se trate de uma coisa não conscientizada que se deve ao fato de que já não compareço aqui há muito, que agora levanto essa (espero que) amena polêmica opinativa.
Faço isto sem preder de vista que principalmente em público ainda prezo muito minha costumeira neutralidade quanto à maioria dos temas polêmicos que vejo discutidos de foma absurdamente apaixonada internet a fora: política (argh!), religião, sei lá mais quantos desses temas essencialmente indigestos, a julgar pelo que observo nas tão exageradas reações. Pessoas chegam ao ponto de perderem toda a urbanidade e compostura, não raro por dê cá aquela palha, o que é muito lamentável, muito triste.
Retornando então a minhas breguices favoritas, lembrando de todas as devidas ressalvas que já fiz.
A primeira que me ocorre é esta:
http://www.youtube.com/watch?v=1ceVfQg7Z4o
A cantora é Joanna e a canção é Chama. Pois é, eu gosto mesmo dessa letra, e também da música e da interpretação dela. Quem não conhece talvez sequer perceba a breguice. Neste caso sugiro que se dê o trabalho de ouvir mais coisas do repertório desta artista e tirar suas próprias conclusões. Ah, também gosto de Vertigem, com ela.
Segue, pela ordem de chegada a minha lembrança, mais uma que é mui adequadamente das antigas, agora interpretada por Nilton César. Quem quiser conferir repare só nos 'erres' dele. A Namorada que Sonhei. Eivada à alma de legítima breguice em minha nada abalizada opinão bregológica, mas ao mesmo tempo assim bem bonitinha, sincera, de uma singeleza quase infantil, que me agrada o gosto ao ponto da excepcional inexigência. Mandei de presente minha própria interpretação dela ao violão, num solinho tecnicamente danado de ruim e super mal gravado, mas com intenção perfeitamente reconhecível, exatamente num dia dos namorados. E quem recebeu este 'presentinho' ainda me disse que gostou. e eu areditei, mesmo. A gravação que fiz ainda está nesse computador, só que nunca mais sairá dele pra lugar nenhum. Missão cumprida. Conservação por conta de minha leve síndrome de Diógenes. Que minhas breguices não saiam do âmbito doméstico a não ser em palavras, por exemplo em postagens sobre meu gosto musical. Eis a canção:
http://www.youtube.com/watch?v=pv3nodauhu0
Claro que o tema é perfeitamente retomável a qualquer momento, mas por ora já justifiquei meu titulo com essas duas canções e chega de escrever textão. Aos possíveis comentaristas lembro que discordar é seu direito. O mais provável é que eu continue achando breguinhas essas canções, não importa que argumentos se apresentem em contrário. Caso algum me convença, reformulo. E tenho por praticamente que continuarei gostando delas, sejam quais forem os argumentos com intenção dissuasiva.
Convido por fim aos possíveis leitores e comentaristas que também sugiram aqui o que em sua opinião forem boas canções bregas. Estou consciente dos riscos que corro, de fazer desta página uma bregolândia só, quem sabe cheia de canções que não gosto. Mas tudo bem, gosto não se discute mesmo.
domingo, 17 de abril de 2016
Dia D, Hora H
Participei muito discretamente do atual momento político.
Minha voz não chega a tanta gente quanto acredito que pudesse ser útil a esta causa. Por isso mesmo, nem este blog nem qualquer outro espaço virtual onde me apresento me serviram até o momento como tribuna.
Meus textos são invariavelmente ignorados por muitos. Alongo-me natural e deliberadamente, para melhor me expressar de acordo com alguma ideia, opinião, inspiração que tenha. Isto só já afugenta um bom número de pessoas que de alguma forma me conhecem. E já me proporciona uma espécie de "seleção natural" que para mim, neste caso, chega a ser conveniente. Os que não gostam de ler nem sequer vêm aqui, onde praticamente nada mais que palavras, que textos encontrarão. E ponto.
Já os que leem habitualmente e graças a isso têm referências culturais suficientes, em geral não só leem como apreciam meus escritos, concordando ou não com minhas ideias. Quando aqui se manifestam em comentários são sempre respeitosos, atinados, nada radicais nem superficiais, nem exageradamente nada. Correspondem, assim, perfeitamente ao que lhes ofereço em termos de comportamento: urbanidade, respeito incondicional às pessoas, essas e muitas outras coisas. O retorno que obtenho é, para mim, qualitativamente satisfatório.
Assim, por mais modestamente que seja, tenho meu leitorado. É com este leitorado que dialogo. Um leitorado plural, variado, includente, no qual nem todos se parecem comigo ou são meu espelho. Nem todos torcem pelo meu Botafogo ou pelo meu Internacional (sou gaúcho). Nem todos são neutros como eu em assuntos religiosos, nem todos comungam de todas as minhas ideias e preferências, o que é simplesmente natural e não faz sentido para mim buscar outro leitorado, que seja quantitativamente mais expressivo mas com gente que se comporta em público em completo desacordo com a maneira como eu mesmo me comporto, em público ou não. Nunca xingo, nunca insulto, nunca ofendo ninguém. A forma sutil que descobri de não convidar quem faz habitualmente tudo isso sem precisar ser explícito a este respeito foi esta, e tem funcionado muito bem. Os precipitados de língua geralmente não leem textos um pouquinho mais longos. Fico livre deles, assim. Quem aqui chegar com intenções de trolagem, por exemplo, simplesmente não se sentirá à vontade, se chegar a perceber que destoa não só do meu discurso, como também do de todos os demais comentaristas.
Mas hoje vim tocar o Bonde com outro assunto. O título já diz do que se trata. Neste domingo que nacionalmente promete um fervilhamento de opiniões, de ocorrências, etc., venho falar um pouquinho sobre a situação atual do país conforme a vejo.
Não pretendo soar paladino, dono da verdade ou coisa assim. Venho apenas externar algumas opiniões minhas a meu modo em meu próprio espaço virtual.
Acho um pouco ridícula essa divisão da opinião pública entre dois times: o dos coxinhas e o dos petralhas.
Mas a divisão aí está, ela já se impôs e não há nada que eu possa fazer a respeito disso; não é por declarar aqui que a acho ridícula que alguma coisa relevante acontecerá no sentido de dissolvê-la ou sequer de enfraquecê-la. Sou realista e sei que me dirijo a pouca gente, pelos motivos já mencionados e por outros.
Tenho amigos virtuais em ambos os times. Ninguém é ou deixa de ser meu amigo só por vestir esta ou aquela camisa.
Um amigo inclusive se manifestou sobre isto de uma forma interessante. Ele não é nem coxinha nem petralha e aponta o desconforto que sente ao não apoiar nenhuma dessas duas 'facções'. Ambas parecem cobrar-lhe uma posição. Então ele publicou alguma coisa dessas prontas em que o autor não é identificado. O questionamento ali apontava para quatro questões: Dá pra defender esse governo que aí está? Dá pra apoiar essa oposição que aí está? Dá para acreditar nessa imprensa que aí está? Dá pra dialogar com esse povo que aí está?
A mais óbvia resposta seria um sonoro NÃO para todas.
Já fui de odiar. Odiei o governo militar quando ainda era um jovem universitário. Odiei o Chagas Freitas, em quem via apenas uma figura pública cheia de demagogia, dono de um daqueles jornais que exploravam o agrado popular pela crônica policial sensacionalista, dos quais se dizia que se a gente torcer, sai sangue, bem ao agrado de uma fração da população que talvez jamais chegue a entender o que é o PIB.
Odiei muito o Amaral Neto, que se aproveitando dessa fácil instilação de ódio no povo puxou um plebiscito pela pena de morte no Brasil. Cheguei a escrever uma carta aberta para mandar aos principais jornais dizendo que esse plebiscito não contaria com meu voto favorável nem se me garantissem que a pena de morte seria revogada logo após a primeira e única execução, do próprio Amaral Neto.
Pois nesse 2016 completarei 60 anos. Não me acho mais em idade de odiar ninguém.
Ser um desses 'justiceiros' baratos para atrair com pura e cínica demagogia um grande número de adesões a essas 'ideias' de sempre mas bolsonarianas, datenianas e quejandas, para atualizar um pouco, é coisa que está completamente fora de questão, como sempre esteve e estará.
Mas essa instilação de ódio fácil e bem sucedida continua me incomodando porque vejo seus frutos.
Salta aos olhos, para mim, a superficialidade de quem propõe ou engole esse tipo de discurso.
Alinho-me com os que parecem pensar, refletir. Vendo os vídeos do professor Karnal, por exemplo, o povo ganharia muito mais. Mas são vídeos que falam de coisas mais profundas, de maneira muito bem fundamentada. Naturalmente, os que os assistem, compreendem e opinam são em média pessoas de escolaridade bem mais alta.
Uma ótima piada dele diz mais ou menos: "Se fosse assim, seria fácil. Eu trocaria Hamlet por Paulo coelho e seria feliz." Está num vídeo onde ele discorre interessante e ponderadamente sobre essa coisa de haver um único culpado por todos os males do país, que bastaria "fritar" para os problemas todos acabarem, principalmente no que diz respeito a corrupção.
Não posso concordar com os demagogos de agora, esses que instilam esse visível e denso ódio nos que aceitam suas alegações e manobras.
Sou de um tempo em que já se falava o diabo de dois poderes: o executivo e o legislativo. Isso aconteceu inclusive em todos os governos anteriores ao presente século, sem exceção. E a corrupção já corria solta, também, naqueles antigamentes. Mas o judiciário sempre me parecera, se não inatacável, ao menos inatacado. Alguma coisa havia ali que não dava margem à opinião pública para falar "isso" deles. Mas lá se foi esse tempo.
Hoje temos juízes claramente partidários, clara e totalmente comprometidos com resultados previamente arranjados. Quem conhece o "Le Monde" não diria que ele se alinha ou identifica com a nossa banda 'petralha'. Pois justamente ali saiu recentemente uma matéria sobre o Brasil que claramente apontava entre várias outras coisas nada recomendáveis esse caráter seletivo da nossa justiça. Como brasileiro, só consegui sentir vergonha, vergonha do fato de alguns de nossos magistrados, inclusive notáveis e descendentes de notáveis juristas, terem perdido a vergonha.
Envergonhadamente, tenho dito.
Minha voz não chega a tanta gente quanto acredito que pudesse ser útil a esta causa. Por isso mesmo, nem este blog nem qualquer outro espaço virtual onde me apresento me serviram até o momento como tribuna.
Meus textos são invariavelmente ignorados por muitos. Alongo-me natural e deliberadamente, para melhor me expressar de acordo com alguma ideia, opinião, inspiração que tenha. Isto só já afugenta um bom número de pessoas que de alguma forma me conhecem. E já me proporciona uma espécie de "seleção natural" que para mim, neste caso, chega a ser conveniente. Os que não gostam de ler nem sequer vêm aqui, onde praticamente nada mais que palavras, que textos encontrarão. E ponto.
Já os que leem habitualmente e graças a isso têm referências culturais suficientes, em geral não só leem como apreciam meus escritos, concordando ou não com minhas ideias. Quando aqui se manifestam em comentários são sempre respeitosos, atinados, nada radicais nem superficiais, nem exageradamente nada. Correspondem, assim, perfeitamente ao que lhes ofereço em termos de comportamento: urbanidade, respeito incondicional às pessoas, essas e muitas outras coisas. O retorno que obtenho é, para mim, qualitativamente satisfatório.
Assim, por mais modestamente que seja, tenho meu leitorado. É com este leitorado que dialogo. Um leitorado plural, variado, includente, no qual nem todos se parecem comigo ou são meu espelho. Nem todos torcem pelo meu Botafogo ou pelo meu Internacional (sou gaúcho). Nem todos são neutros como eu em assuntos religiosos, nem todos comungam de todas as minhas ideias e preferências, o que é simplesmente natural e não faz sentido para mim buscar outro leitorado, que seja quantitativamente mais expressivo mas com gente que se comporta em público em completo desacordo com a maneira como eu mesmo me comporto, em público ou não. Nunca xingo, nunca insulto, nunca ofendo ninguém. A forma sutil que descobri de não convidar quem faz habitualmente tudo isso sem precisar ser explícito a este respeito foi esta, e tem funcionado muito bem. Os precipitados de língua geralmente não leem textos um pouquinho mais longos. Fico livre deles, assim. Quem aqui chegar com intenções de trolagem, por exemplo, simplesmente não se sentirá à vontade, se chegar a perceber que destoa não só do meu discurso, como também do de todos os demais comentaristas.
Mas hoje vim tocar o Bonde com outro assunto. O título já diz do que se trata. Neste domingo que nacionalmente promete um fervilhamento de opiniões, de ocorrências, etc., venho falar um pouquinho sobre a situação atual do país conforme a vejo.
Não pretendo soar paladino, dono da verdade ou coisa assim. Venho apenas externar algumas opiniões minhas a meu modo em meu próprio espaço virtual.
Acho um pouco ridícula essa divisão da opinião pública entre dois times: o dos coxinhas e o dos petralhas.
Mas a divisão aí está, ela já se impôs e não há nada que eu possa fazer a respeito disso; não é por declarar aqui que a acho ridícula que alguma coisa relevante acontecerá no sentido de dissolvê-la ou sequer de enfraquecê-la. Sou realista e sei que me dirijo a pouca gente, pelos motivos já mencionados e por outros.
Tenho amigos virtuais em ambos os times. Ninguém é ou deixa de ser meu amigo só por vestir esta ou aquela camisa.
Um amigo inclusive se manifestou sobre isto de uma forma interessante. Ele não é nem coxinha nem petralha e aponta o desconforto que sente ao não apoiar nenhuma dessas duas 'facções'. Ambas parecem cobrar-lhe uma posição. Então ele publicou alguma coisa dessas prontas em que o autor não é identificado. O questionamento ali apontava para quatro questões: Dá pra defender esse governo que aí está? Dá pra apoiar essa oposição que aí está? Dá para acreditar nessa imprensa que aí está? Dá pra dialogar com esse povo que aí está?
A mais óbvia resposta seria um sonoro NÃO para todas.
Já fui de odiar. Odiei o governo militar quando ainda era um jovem universitário. Odiei o Chagas Freitas, em quem via apenas uma figura pública cheia de demagogia, dono de um daqueles jornais que exploravam o agrado popular pela crônica policial sensacionalista, dos quais se dizia que se a gente torcer, sai sangue, bem ao agrado de uma fração da população que talvez jamais chegue a entender o que é o PIB.
Odiei muito o Amaral Neto, que se aproveitando dessa fácil instilação de ódio no povo puxou um plebiscito pela pena de morte no Brasil. Cheguei a escrever uma carta aberta para mandar aos principais jornais dizendo que esse plebiscito não contaria com meu voto favorável nem se me garantissem que a pena de morte seria revogada logo após a primeira e única execução, do próprio Amaral Neto.
Pois nesse 2016 completarei 60 anos. Não me acho mais em idade de odiar ninguém.
Ser um desses 'justiceiros' baratos para atrair com pura e cínica demagogia um grande número de adesões a essas 'ideias' de sempre mas bolsonarianas, datenianas e quejandas, para atualizar um pouco, é coisa que está completamente fora de questão, como sempre esteve e estará.
Mas essa instilação de ódio fácil e bem sucedida continua me incomodando porque vejo seus frutos.
Salta aos olhos, para mim, a superficialidade de quem propõe ou engole esse tipo de discurso.
Alinho-me com os que parecem pensar, refletir. Vendo os vídeos do professor Karnal, por exemplo, o povo ganharia muito mais. Mas são vídeos que falam de coisas mais profundas, de maneira muito bem fundamentada. Naturalmente, os que os assistem, compreendem e opinam são em média pessoas de escolaridade bem mais alta.
Uma ótima piada dele diz mais ou menos: "Se fosse assim, seria fácil. Eu trocaria Hamlet por Paulo coelho e seria feliz." Está num vídeo onde ele discorre interessante e ponderadamente sobre essa coisa de haver um único culpado por todos os males do país, que bastaria "fritar" para os problemas todos acabarem, principalmente no que diz respeito a corrupção.
Não posso concordar com os demagogos de agora, esses que instilam esse visível e denso ódio nos que aceitam suas alegações e manobras.
Sou de um tempo em que já se falava o diabo de dois poderes: o executivo e o legislativo. Isso aconteceu inclusive em todos os governos anteriores ao presente século, sem exceção. E a corrupção já corria solta, também, naqueles antigamentes. Mas o judiciário sempre me parecera, se não inatacável, ao menos inatacado. Alguma coisa havia ali que não dava margem à opinião pública para falar "isso" deles. Mas lá se foi esse tempo.
Hoje temos juízes claramente partidários, clara e totalmente comprometidos com resultados previamente arranjados. Quem conhece o "Le Monde" não diria que ele se alinha ou identifica com a nossa banda 'petralha'. Pois justamente ali saiu recentemente uma matéria sobre o Brasil que claramente apontava entre várias outras coisas nada recomendáveis esse caráter seletivo da nossa justiça. Como brasileiro, só consegui sentir vergonha, vergonha do fato de alguns de nossos magistrados, inclusive notáveis e descendentes de notáveis juristas, terem perdido a vergonha.
Envergonhadamente, tenho dito.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Babelcube
Entrei para a Babelcube no início deste ano.
É uma empresa relativamente nova que funciona basicamente online onde autores e tradutores independentes de quase qualquer lugar do mundo se encontram e fazem interessantes parcerias. A remuneração contratada para cada trabalho de tradução fica na base de um percentual sobre as vendas do respectivo produto. Achei ótima a ideia. Inscrevi-me então lá tanto como tradutor quanto como autor. Meu livro Poesia Amadora agora está permanentemente oferecido a quem o queira traduzir para qualquer língua. Parece que até o momento ninguém se habilitou ainda, mas traduzir poesia é coisa bem complicada, mesmo. São bem poucos os trabalhos nessa linha que vi por lá até o momento.
Sou tradutor profissional desde 1985. Já traduzi praticamente de tudo, textos técnicos, material para uso interno em grandes empresas, material acadêmico, e muitos etcéteras, inclusive alguns livros.
Minha média de livros traduzidos por ano estava na base do zero vírgula alguma coisa até o ano passado, antes de eu descobrir esta interessante possibilidade, já que nesses trinta anos cheios de atividade traduzi menos de trinta títulos, uns vinte só, se tantos, alguns dos quais eu nem sequer soube se foram publicados.
Com a modernidade e a descoberta da Babelcube, isso mudou completamente.
Pela ordem, comecei traduzindo por lá um livro americano de que gostei, passando por todo o processo normal de propor, traduzir uma amostra, receber a aprovação do autor, fechar o contrato e executar a tarefa. Fiz tudo isso e a obra ainda se acha no prelo, ou 'aguardando publicação', como eles dizem lá. Chama-se How to Publish Your Book, de Justin Sachs. É uma obra interessante, cheia de dicas para quem escreve, como como escrever uma boa carta-consulta para editoras e muitas outras coisas. Especialmente interessante para escritores que queiram entrar no mercado americano, é óbvio.
Em seguida peguei para traduzir The long Cutie, de Dan Alatorre . Mesma coisa e mesmo resultado que a obra anterior. No prelo ainda, só que desta vez o autor me avaliou com cinco estrelinhas e o seguinte comentário: "Great job! Highly recommended". E não é que eu comecei a gostar dessa trabalhosa brincadeira?
Escolhi em seguida um autor italiano, Roberto Coppola, cuja obra original se chama Anche Tu Poliglotta. Esta tradução já foi publicada e está disponível em forma de e-book em diversos canais, sob o título Você Também Poliglota em minha tradução ao português. Traz uma porção de dicas para a poliglotização autodidática, avalia e sugere alguns métodos e oferece um curioso plano pelo qual qualquer pessoa disposta a fazer sua parte poderá se comunicar razoavelmente bem em quatro línguas estrangeiras no curto prazo de dois anos. O autor também me deu as cinco estrelinhas lá, pela tradução que fiz.
Traduzi depois ainda de um autor espanhol, José Vicente Alfaro, o interessante romance El Llanto de la Isla de Pascua para o português. Já entreguei a tradução completa, que por ora como todas as demais menos uma ainda se acha 'aguardando publicação'. Também não consta ainda ali nenhuma avaliação do autor.
Nesse ínterim, um autor brasileiro chamado Johann Heyss me solicitou a tradução de um de seus livros, Iniciação à Numerologia, para o italiano. Vi que o referido livro já fora traduzido para o inglês (pelo próprio autor), francês, alemão e espanhol. Passei pelo processo, traduzi uma amostra que ele aprovou e assim mais um contrato Babelcube foi fechado. Estou trabalhando nessa tradução, pra a qual solicitei um prazo confortável de modo a poder caprichar na tradução e também aceitar possíveis novas solicitações sem grandes aperreios.
E não é que as novas solicitações estão chegando mesmo? Um autor italiano, Demetrio Verbaro, me solicitou a tradução de seu Il Carico della Formica para o francês. Já fechamos contrato e acho-me agora traduzindo de uma língua estrangeira para outra pela Babelcube. Neste caso conto ainda com uma parceira francófona para a revisão final de meu texto em francês, cujo nome não consta no contrato porque sua inscrição na Babelcube não estava completa durante esta negociação. Mas trata-se de pessoa bem próxima a mim com quem já fiz várias outras parcerias antes sem jamais termos tido qualquer tipo de problema.
Uma autora italiana recentemente me procurou para traduzir um livro seu ao inglês. Mandei-lhe ontem a pequena amostra, que ela ainda não avaliou. Caso fechemos contrato, já será o sétimo deste ano e mais uma tradução que farei de uma língua estrangeira para outra, o que só muito raramente me foi solicitado em todas essas décadas de mangas arregaçadas. Coisas da Babelcube.
Não faço ainda a mínima ideia de que retorno financeiro obterei com estes esforços tradutórios. É muito cedo para qualquer tipo de especulação minha neste sentido. Cada livro novo que seja lançado se sairá como o mercado bem entender. Não existem garantias possíveis de vendas mínimas, até onde eu saiba, até porquê isso nem seria possível. Acredito que alguns dos livros que já traduzi ou estou traduzindo possa desempenhar bem, caso em que até que enfim me verei mesmo decentemente remunerado. Não tenho expectativas mirabolantes, mas faz sentido esperar retorno compatível com o esforço que despendo e com a qualidade que faço absoluta questão de imprimir ao meu trabalho. Ainda na hipótese de todas as minhas traduções acabarem tendo um desempenho medíocre em termos de vendas, terei pelo menos um bom número de trabalhos realizados recentemente que podem por falar por si só e constituir-se em prova de minha capacidade de trabalho, de minha versatilidade e competência linguística, o que afinal de contas para alguma coisa haverá de me servir, pelo menos no sentido de conferir visibilidade ao que faço, o que sempre é útil.
Tenho divulgado estes trabalhos pelas redes sociais que frequento, agora mesmo estou fazendo isso aqui no Bonde que assim volta a andar. Pode não ser muita coisa, mas estou convencido de que algum efeito positivo mesmo este pequeno esforço de divulgação que venho fazendo acabará por surtir.
É uma empresa relativamente nova que funciona basicamente online onde autores e tradutores independentes de quase qualquer lugar do mundo se encontram e fazem interessantes parcerias. A remuneração contratada para cada trabalho de tradução fica na base de um percentual sobre as vendas do respectivo produto. Achei ótima a ideia. Inscrevi-me então lá tanto como tradutor quanto como autor. Meu livro Poesia Amadora agora está permanentemente oferecido a quem o queira traduzir para qualquer língua. Parece que até o momento ninguém se habilitou ainda, mas traduzir poesia é coisa bem complicada, mesmo. São bem poucos os trabalhos nessa linha que vi por lá até o momento.
Sou tradutor profissional desde 1985. Já traduzi praticamente de tudo, textos técnicos, material para uso interno em grandes empresas, material acadêmico, e muitos etcéteras, inclusive alguns livros.
Minha média de livros traduzidos por ano estava na base do zero vírgula alguma coisa até o ano passado, antes de eu descobrir esta interessante possibilidade, já que nesses trinta anos cheios de atividade traduzi menos de trinta títulos, uns vinte só, se tantos, alguns dos quais eu nem sequer soube se foram publicados.
Com a modernidade e a descoberta da Babelcube, isso mudou completamente.
Pela ordem, comecei traduzindo por lá um livro americano de que gostei, passando por todo o processo normal de propor, traduzir uma amostra, receber a aprovação do autor, fechar o contrato e executar a tarefa. Fiz tudo isso e a obra ainda se acha no prelo, ou 'aguardando publicação', como eles dizem lá. Chama-se How to Publish Your Book, de Justin Sachs. É uma obra interessante, cheia de dicas para quem escreve, como como escrever uma boa carta-consulta para editoras e muitas outras coisas. Especialmente interessante para escritores que queiram entrar no mercado americano, é óbvio.
Em seguida peguei para traduzir The long Cutie, de Dan Alatorre . Mesma coisa e mesmo resultado que a obra anterior. No prelo ainda, só que desta vez o autor me avaliou com cinco estrelinhas e o seguinte comentário: "Great job! Highly recommended". E não é que eu comecei a gostar dessa trabalhosa brincadeira?
Escolhi em seguida um autor italiano, Roberto Coppola, cuja obra original se chama Anche Tu Poliglotta. Esta tradução já foi publicada e está disponível em forma de e-book em diversos canais, sob o título Você Também Poliglota em minha tradução ao português. Traz uma porção de dicas para a poliglotização autodidática, avalia e sugere alguns métodos e oferece um curioso plano pelo qual qualquer pessoa disposta a fazer sua parte poderá se comunicar razoavelmente bem em quatro línguas estrangeiras no curto prazo de dois anos. O autor também me deu as cinco estrelinhas lá, pela tradução que fiz.
Traduzi depois ainda de um autor espanhol, José Vicente Alfaro, o interessante romance El Llanto de la Isla de Pascua para o português. Já entreguei a tradução completa, que por ora como todas as demais menos uma ainda se acha 'aguardando publicação'. Também não consta ainda ali nenhuma avaliação do autor.
Nesse ínterim, um autor brasileiro chamado Johann Heyss me solicitou a tradução de um de seus livros, Iniciação à Numerologia, para o italiano. Vi que o referido livro já fora traduzido para o inglês (pelo próprio autor), francês, alemão e espanhol. Passei pelo processo, traduzi uma amostra que ele aprovou e assim mais um contrato Babelcube foi fechado. Estou trabalhando nessa tradução, pra a qual solicitei um prazo confortável de modo a poder caprichar na tradução e também aceitar possíveis novas solicitações sem grandes aperreios.
E não é que as novas solicitações estão chegando mesmo? Um autor italiano, Demetrio Verbaro, me solicitou a tradução de seu Il Carico della Formica para o francês. Já fechamos contrato e acho-me agora traduzindo de uma língua estrangeira para outra pela Babelcube. Neste caso conto ainda com uma parceira francófona para a revisão final de meu texto em francês, cujo nome não consta no contrato porque sua inscrição na Babelcube não estava completa durante esta negociação. Mas trata-se de pessoa bem próxima a mim com quem já fiz várias outras parcerias antes sem jamais termos tido qualquer tipo de problema.
Uma autora italiana recentemente me procurou para traduzir um livro seu ao inglês. Mandei-lhe ontem a pequena amostra, que ela ainda não avaliou. Caso fechemos contrato, já será o sétimo deste ano e mais uma tradução que farei de uma língua estrangeira para outra, o que só muito raramente me foi solicitado em todas essas décadas de mangas arregaçadas. Coisas da Babelcube.
Não faço ainda a mínima ideia de que retorno financeiro obterei com estes esforços tradutórios. É muito cedo para qualquer tipo de especulação minha neste sentido. Cada livro novo que seja lançado se sairá como o mercado bem entender. Não existem garantias possíveis de vendas mínimas, até onde eu saiba, até porquê isso nem seria possível. Acredito que alguns dos livros que já traduzi ou estou traduzindo possa desempenhar bem, caso em que até que enfim me verei mesmo decentemente remunerado. Não tenho expectativas mirabolantes, mas faz sentido esperar retorno compatível com o esforço que despendo e com a qualidade que faço absoluta questão de imprimir ao meu trabalho. Ainda na hipótese de todas as minhas traduções acabarem tendo um desempenho medíocre em termos de vendas, terei pelo menos um bom número de trabalhos realizados recentemente que podem por falar por si só e constituir-se em prova de minha capacidade de trabalho, de minha versatilidade e competência linguística, o que afinal de contas para alguma coisa haverá de me servir, pelo menos no sentido de conferir visibilidade ao que faço, o que sempre é útil.
Tenho divulgado estes trabalhos pelas redes sociais que frequento, agora mesmo estou fazendo isso aqui no Bonde que assim volta a andar. Pode não ser muita coisa, mas estou convencido de que algum efeito positivo mesmo este pequeno esforço de divulgação que venho fazendo acabará por surtir.
domingo, 12 de abril de 2015
Durante a Parada Do Bonde
Muita coisa aconteceu nesses quase dois anos. De longe, foi o maior intervalo entre duas postagens por aqui. Venho hoje reativar este blog. Um punhado de explicações de cunho necessariamente autobiográfico se impõem. Talvez elas próprias ultimamente me viessem fazendo adiar este momento um tanto acanhado, em que me consulto sobre meu próprio querer ou não, encarar ou não, já que não existe impedimento concreto algum para esta ressurreição da minha vida de blogueiro.
De alguma forma, sinto como se eu agora estivesse reinaugurando o Bonde. Conheço bom número de blogs que após um recesso que se pretendia relativamente curto, simplesmente nunca mais...
Ver o abandono de vários espaços virtuais que frequentei como leitor é uma coisa, fico aqui só imaginando o que teria acontecido e se eu ainda visitarei e verei novidades em cada um daqueles espaços que continuam na blogosfera, para como antes ler, deixar comentários, essas coisas, não é? Agora, chato mesmo é perceber como eu próprio também, sem mais nem menos, abandonei meus blogs sem dar qualquer explicação, nem sequer para mim.
O entusiasmo que me movia a escrever na blogosfera já vai longe. Não me pergunte por quê, que isso eu também não sei, embora ainda tenha intenções por assim dizer proustianas de recuperação do tempo perdido.
O ano de 2013 foi pontuado de problemas específicos, entre os quais pouco trabalho e consequentemente pouco dinheiro e consequentemente acho que nem preciso continuar. Sofri inclusive a perda total de um PC, com tudo o que nele havia sem backup: pesquisas, ensaios, trabalhos da mais variada natureza. Salvou-se apenas o que existia em cópia, na Dropbox, no e-mail em pen drive. Se foi algum vírus ou o quê, acabei nem descobrindo.
No segundo semestre, participei de um treinamento que durou duas semanas num curso de idiomas. Gostei, já não dava aulas fazia coisa de uma década. Precisava mesmo de alguma atualização para “desenferrujar”. Com gosto percebi que havia outros colegas da minha faixa etária entre os candidatos treinandos e até professores que já estavam trabalhando lá. Reencontrei, por exemplo, uma colega de faculdade de cujo paradeiro eu não fazia a mínima ideia há mais de vinte anos. Demoraram um pouco para me chamar, parecia que tinham esquecido de mim, acabei só começando pra valer em dezembro, coisa de três meses após o tal treinamento. Foi um período de agitação, de movimento. Só o fato de estar trabalhando justificava os longos deslocamentos diários em transportes públicos normalmente apinhados não só para ir e voltar como também para transitar entre as empresas onde dava minhas aulas. Foi bem mais irritante e cansativo do que eu me lembrava, mas ganhei um olhar bem mais positivo graças ao ingresso de algum dinheirinho que eu podia ter por mais ou menos certo. Tudo isto durou quinze meses, nos quais conheci pessoas, fiz bons contatos e amizades, exercitei novamente minhas antigas habilidades profissionais, muita coisa boa, mesmo. Só que acabou. Esse tipo de experiência de trabalho normalmente é efêmero, pelo menos comigo sempre foi e as exceções que conheço são bem poucas. Com certeza vou me lembrar de mais essa por um bom tempo.
Comprei outro computador em 2014 (já estou terminando de pagar as prestações) e reiniciei minhas atividades virtuais meio precariamente, pois praticamente já não dispunha mais de tempo. Apareceu então um anúncio da Amazon oferecendo autopublicação numa modalidade que eu desconhecia. Não havia despesas. Era só mandar a obra e eles publicavam. Tive considerável trabalho para juntar o material (a maior parte extraído deste blog) e depois colocar tudo no formato correto, sem saber patavina de artes gráficas. Pelo menos eu entendo bem inglês, o que com certeza foi uma dificuldade a menos. Sei de autores que se viraram com tradução de Google, na mesma situação. Fico só imaginando a dificuldade destes.
Mas o livro acabou saindo. Chama-se Poesia Amadora e Prosa. Está lá, no site
http://www.amazon.com/Poesia-Amadora-Portuguese-Jo%C3%A3o-Esteves/dp/1502736195/
Não empreendi grandes esforços promocionais, ainda. Quem comprar pelo link acima paga $8,38, mais o frete; se for para o Brasil, a compra sai por uns quinze dólares, conforme eu mesmo experimentei, só para conferir.
Nessa linha de autopublicação, descobri outro site chamado Babelcube, um lugar virtual onde autores e tradutores do mundo inteiro se encontram. Fiz meu cadastro e escolhi para traduzir como experiência o trabalho do americano Justin Sachs chamado How To Publish Your Book. Fiz assim uma primeira tradução, que entreguei no dia 4 passado. Ainda não tenho notícias, mas ainda é cedo, pois o processo inteiro que vem depois da entrega da tradução pode realmente demorar um pouco.
O fato é que agora já sou um autor publicado e ainda tenho um considerável campo novo para explorar como tradutor. Tudo graças a essas novidades de que talvez sequer tomasse conhecimento se tivesse perdido de uma vez por todas o contato com o mundo virtual.
Chegou enfim a hora de reativar este blog, e a presente postagem bem pode significar um reinício de atividade virtual intensiva. Pelo menos assim espero. Fico aguardando direitinho como ficava em outros tempos a possível chegada de leitores que aqui deixem seus comentários. O Bonde volta a circular como outrora, antes desse longo recolhimento, mas tudo agora me parece novo. Sinto-me como a conduzi-lo em sua viagem inaugural.
De alguma forma, sinto como se eu agora estivesse reinaugurando o Bonde. Conheço bom número de blogs que após um recesso que se pretendia relativamente curto, simplesmente nunca mais...
Ver o abandono de vários espaços virtuais que frequentei como leitor é uma coisa, fico aqui só imaginando o que teria acontecido e se eu ainda visitarei e verei novidades em cada um daqueles espaços que continuam na blogosfera, para como antes ler, deixar comentários, essas coisas, não é? Agora, chato mesmo é perceber como eu próprio também, sem mais nem menos, abandonei meus blogs sem dar qualquer explicação, nem sequer para mim.
O entusiasmo que me movia a escrever na blogosfera já vai longe. Não me pergunte por quê, que isso eu também não sei, embora ainda tenha intenções por assim dizer proustianas de recuperação do tempo perdido.
O ano de 2013 foi pontuado de problemas específicos, entre os quais pouco trabalho e consequentemente pouco dinheiro e consequentemente acho que nem preciso continuar. Sofri inclusive a perda total de um PC, com tudo o que nele havia sem backup: pesquisas, ensaios, trabalhos da mais variada natureza. Salvou-se apenas o que existia em cópia, na Dropbox, no e-mail em pen drive. Se foi algum vírus ou o quê, acabei nem descobrindo.
No segundo semestre, participei de um treinamento que durou duas semanas num curso de idiomas. Gostei, já não dava aulas fazia coisa de uma década. Precisava mesmo de alguma atualização para “desenferrujar”. Com gosto percebi que havia outros colegas da minha faixa etária entre os candidatos treinandos e até professores que já estavam trabalhando lá. Reencontrei, por exemplo, uma colega de faculdade de cujo paradeiro eu não fazia a mínima ideia há mais de vinte anos. Demoraram um pouco para me chamar, parecia que tinham esquecido de mim, acabei só começando pra valer em dezembro, coisa de três meses após o tal treinamento. Foi um período de agitação, de movimento. Só o fato de estar trabalhando justificava os longos deslocamentos diários em transportes públicos normalmente apinhados não só para ir e voltar como também para transitar entre as empresas onde dava minhas aulas. Foi bem mais irritante e cansativo do que eu me lembrava, mas ganhei um olhar bem mais positivo graças ao ingresso de algum dinheirinho que eu podia ter por mais ou menos certo. Tudo isto durou quinze meses, nos quais conheci pessoas, fiz bons contatos e amizades, exercitei novamente minhas antigas habilidades profissionais, muita coisa boa, mesmo. Só que acabou. Esse tipo de experiência de trabalho normalmente é efêmero, pelo menos comigo sempre foi e as exceções que conheço são bem poucas. Com certeza vou me lembrar de mais essa por um bom tempo.
Comprei outro computador em 2014 (já estou terminando de pagar as prestações) e reiniciei minhas atividades virtuais meio precariamente, pois praticamente já não dispunha mais de tempo. Apareceu então um anúncio da Amazon oferecendo autopublicação numa modalidade que eu desconhecia. Não havia despesas. Era só mandar a obra e eles publicavam. Tive considerável trabalho para juntar o material (a maior parte extraído deste blog) e depois colocar tudo no formato correto, sem saber patavina de artes gráficas. Pelo menos eu entendo bem inglês, o que com certeza foi uma dificuldade a menos. Sei de autores que se viraram com tradução de Google, na mesma situação. Fico só imaginando a dificuldade destes.
Mas o livro acabou saindo. Chama-se Poesia Amadora e Prosa. Está lá, no site
http://www.amazon.com/Poesia-Amadora-Portuguese-Jo%C3%A3o-Esteves/dp/1502736195/
Não empreendi grandes esforços promocionais, ainda. Quem comprar pelo link acima paga $8,38, mais o frete; se for para o Brasil, a compra sai por uns quinze dólares, conforme eu mesmo experimentei, só para conferir.
Nessa linha de autopublicação, descobri outro site chamado Babelcube, um lugar virtual onde autores e tradutores do mundo inteiro se encontram. Fiz meu cadastro e escolhi para traduzir como experiência o trabalho do americano Justin Sachs chamado How To Publish Your Book. Fiz assim uma primeira tradução, que entreguei no dia 4 passado. Ainda não tenho notícias, mas ainda é cedo, pois o processo inteiro que vem depois da entrega da tradução pode realmente demorar um pouco.
O fato é que agora já sou um autor publicado e ainda tenho um considerável campo novo para explorar como tradutor. Tudo graças a essas novidades de que talvez sequer tomasse conhecimento se tivesse perdido de uma vez por todas o contato com o mundo virtual.
Chegou enfim a hora de reativar este blog, e a presente postagem bem pode significar um reinício de atividade virtual intensiva. Pelo menos assim espero. Fico aguardando direitinho como ficava em outros tempos a possível chegada de leitores que aqui deixem seus comentários. O Bonde volta a circular como outrora, antes desse longo recolhimento, mas tudo agora me parece novo. Sinto-me como a conduzi-lo em sua viagem inaugural.
sábado, 17 de agosto de 2013
Uma de meu Baú
Hoje tiro de meu baú um texto que escrevi há exatos vinte e sete anos, em 1986. Não acho que seja o caso de fazer qualquer atualização. Segue como foi originalmente escrito.
PARA VOCÊ LER, COM TODA A DESATENÇÃO QUE DISPENSA NORMALMENTE A LEITURAS DISPENSÁVEIS
Impossível que assim não seja. O pacto aqui é de ócio, mesmo. Encontram-se, por mero acaso, um leitor desinteressado e um autor desinteressante, cada qual no seu papel, à falta de o que mais fazer.
Assim, ao dirigir-lhe a desnecessária palavra, sinto que somos igualmente culpados.
Puro passatempo. Nada, pois, de tentar entender, ou pior, compreender o sentido de minhas palavras. Por deliberação própria, elas não pretendem dizer nada mesmo, pretensão esta que garantidamente hão de cumprir.
Também, por que é que em vez de minhas insossas palavras, você não está lendo agora um desses clássicos imortais, hein? Ah, e se estrangeiro, no original.
Que nada. Pelo fato de ainda estar me lendo até agora, você sem dúvida nenhuma é daqueles que quando dá pra evitar um clássico nem por um segundo hesitam. Evitam, mesmo.
Nada há de errado com os tão reputados clássicos, mas eles nos predispõem negativamente. Um Homero, um Virgílio, um Camões, e todos os demais dessa mesma laia de gigantes, já de saída se nos assomam como qualquer coisa da qual estaríamos, no barato, a quilômetros de distância (e aquém, ainda por cima). Daí nossa indisposição para com aquele tom que se nos afigura pedantesco, aquela inatingibilidade sadicamente calculada, que já de cara nos humilha.
Profundidade demais, assim, não há medíocre que agüente. Muito aborrecidos, afinal, esses tais clássicos universais. Eu os acho.
Depois, cá entre nós, pra que diabos ficar escarafunchando os fundilhos da alma humana num cruel semi-desnudamento de certas verdades vá lá que profundas, mas sempre desencantadoras?
Depois ainda, pra que refletir? Isso é coisa só para uns poucos. Só mesmo certas aves raríssimas, detentoras daquela inegável superioridade que mais as estigmatiza do que distingue.
Mediocridade, ignorância, isso sim. É tão menos inquietante, tão menos diferenciador, tão menos raro, tão mais cômodo, tão mais igualante, tão mais e tão menos sei lá o quê mais. Nós, os oligofrênicos, os néscios, os apedeutas, os indoutos, os iletrados, os analfaburros, nós, o que mais nos chamem-nos Eles, nós é que formamos a esmagadora maioria. Sempre o fizemos, e digam o que quiserem dizer os advogados da falaz massificação da cultura, sempre a constituiremos. Por desconhecermos (eis o nosso verbo) nossa força, ignoramos também nosso direito à dignidade.
UNAMO-NOS JÁ. Está na hora da tomada de consciência! Vamos ecoar aos quatro ventos o som, mesmo que desafinado, de nosso hino-grito-de-guerra:
- O BURRO/ UNIDO/ JAMAIS SERÁ VENCIDO!
- O BURRO/ UNIDO/ JAMAIS SERÁ VENCIDO!
Percebe como não há sofrimento na leitura das banalidades ou baixezas produzidas por estilistas incompetentes? É que a gente não cresceu, não se aperfeiçoou, não evoluiu, não aprendeu porríssima nenhuma, e nada aconteceu contra nossa integridade de medíocres, nem contra nosso amiúde minúsculo amor-próprio. A única mudança (mas esta é inevitável) terá sido o envelhecimento correspondente ao tempo consumido na leitura de tais besteiras. Ah, mas os “outros” leitores também estão envelhecendo. Pelo menos quanto a eles, bem feito!
Normalmente, a gente nem se dá conta do envelhecimento. Cada segundo passado é um a mais na nossa idade, e um a menos na felizmente impredizível distância que nos aparta da morte.
Na infinita e cruel moção do tempo, lá vamos nós todos, os coevos do presente, sabendo muito bem pra onde e, a rigor, nada mais sabendo de certo. Quando sentimos a morte aproximar-se (o que já vinha acontecendo desde o nascimento, ou melhor, desde a concepção), é porque na verdade ela já chegou. Aí...
Destino comum, ela é fim necessário para toda e qualquer vida individual. E no geral, a vida continua. Sempre.
Chegar, ela chega mesmo, se se nasceu. Fatalmente, ela chega.
Última visita desagradável que temos de receber, é sempre na pior hora que ela chega, e raramente a convite. Nunca é bem-vinda e, pela idade que mesmo não aparentando com certeza ela tem, a pobrezinha já deve estar pra lá de acostumada a ser recebida do jeito que é, sempre sob protestos, com toda aquela choradeira e a maior má vontade.
Agora vir, ela vem mesmo. Isso é que vem.
E vem a pretexto de qualquer coisa, quando não sem pretexto nenhum, logo. Existem óbitos explícitos: causa mortis DESCONHECIDA.
Morre-se de medo, sim, mas também se morre ao manifestar coragem demais. De vergonha se morre, mas também de sem-vergonhice. De calor, mas também de frio. De sede se morre, mas de mitigar imoderadamente a sede também. Em qualquer lugar tem gente nas ruas morrendo de fome. A comida de rua também mata, e deve ser por isso mesmo que as mães costumam recomendar aos filhos que a evitem. Se doenças matam, por mais ridículo que pareça, e que me desculpem a franqueza os médicos e demais profissionais de saúde, no fim das contas o próprio exercício da medicina também mata de vez em quando, em seu próprio afã de atrasar ao máximo a visita garantida e inevitável da morte.
Morre-se em conseqüência de erros, tanto próprios como alheios. Mas também se morre, e muito, em conseqüência de acertos os mais variados (acerto de contas, acerto de pontaria, e por aí vai). E também tem gente aí morrendo por conta dos mais diversos desacertos.
Os versáteis, os que justificadamente se orgulham de tocar bem vários instrumentos, falar bem várias línguas, usar bem várias ferramentas, deveriam ver na morte o mais exponencial exemplo de versatilidade.
Não há nada de que ela não saiba como servir-se, e com que eficiência! Diga aí qualquer coisa que você acredita que não mate. Mesmo que nós não conheçamos nenhum caso de quem tenha morrido justamente dessa causa aí, é só “ela” ouvir e pronto, logo começarão a aparecer os primeiros óbitos.
Vejo a morte a servir-se igualmente de cada coisa... e também de seu contrário (que juntos formam uma coisa só). Ódio mata, amor também. Veneno mata, seu antídoto também. Uma arma mata, sua falta também. O ar (por exemplo, injetado na veia com uma seringa), a falta de ar; a pressa (no trânsito, nos herdeiros), e a falta de pressa. As batidas (em todos os sentidos dos respectivos homônimos), mais parto, aids, velhice, criancice, overdose (de qualquer coisa, pois tudo tem sua dose letal), cachaça, salário-mínimo, tudo isso comprovadamente mata melhor que Django e Sartana ao cubo.
Que posso fazer? É continuar, caneta a uma das mãos, a outra na consciência tão cheia da certeza de sua vinda como da ignorância de quando.
Paro aqui, ou prossigo? É claro que vai dar exatamente na mesma. O certo é que a morte vem. Nem adianta. E sempre restará muito mais por fazer do que o somatório do já feito.
O tempo disponível nunca foi nem jamais será suficiente para que bem possamos apreciar tudo quanto há de bom, por exemplo. Mas não dá, mesmo! Urge limitarmo-nos apenas ao melhor, e ainda assim com certas reservas. Não há tempo. Não há.
E aí você, sem nenhum espanto, lendo tudo o que eu escrevi e que sabida e consentidamente não leva e nem era pra levar a parte alguma, enquanto impiedoso e invariavelmente mal aproveitado, o tempo nem por um único instante parou de fazer o que só sabe: ir passando..., passando..., passando..., passando... ... ... ... .. .
Quanto desperdício! Considerável, mas dificilmente evitável desperdício.
Pela trigésima vez na vida, consegui desperdiçar um mais um ano inteiro, confesso. Isto porque hoje é dezoito de agosto. E sabe do que mais? Nutro ainda por cima uma baita duma esperança de alcançar a graça (sei lá que graça isso tem, mas vá lá) de ainda ter direito a muitos e muitos outros anos só para poder desperdiçá-los todinhos, vez após vez. Inescapável.
Fazer o quê com o tempo? Os anos nos ensinam coisas que os dias simplesmente não sabem, nem podem saber. E eu agora começo a ter consciência das décadas. Elas também, por sua vez, nos ensinam coisas que os anos simplesmente não sabem, nem podem saber. Estou entrando em minha quarta década, que se completará ainda dentro deste moribundo século. Na virada do novo século e milênio, estarei a meados da minha quinta década, a completar-se em dois mil e seis. E assim vai, e assim eu vou, ou melhor, os dias, os anos e as décadas vão me levando. E fica sempre aquela inevitável sensação de que a vida é curta. Pode ser. Mas também se faz bastante, se experimenta bastante, se sofre bastante, e no fim das contas a vida talvez nem seja mesmo tão curta assim como a queremos perceber. Poupar o tempo não dá. Nem emprestá-lo, nem roubá-lo, nem pô-lo a render ágio, nem aplicá-lo no open, nem depositá-lo como tudo o que tenho em minha ridícula conta corrente Bradesco, nem carregá-lo nos bolsos, nem especular com ele na bolsa, nem nada disso. Dá? Pra nada do que se faz com dinheiro o tempo serve. Não consigo entender por que cargas d'água tanta gente por aí acredita tão piamente que tempo é dinheiro. Cambada de débeis mentais!
Não posso permitir-me uma recomendação final de jamais desperdiçar seu precioso tempo! Se a fizesse, seria feia hipocrisia de minha parte. Que exemplo eu mesmo dou nesse sentido? E você também, ainda lendo essas minhas baboseiras trintonas. Logo eu, o maior descumpridor dessa enfim supérflua regra do não-desperdício. Que fique claro: eu desperdiço apenas meu tempo, já que a situação não me permite desperdiçar mais nada, pois mais nada eu tenho pra desperdiçar. Senão...
Pois o que eu lhe digo, amigo leitor, é bem outra coisa: desperdice, desperdice mesmo, dissipe, esbanje, inaproveite, jogue fora, seja um perdulário de mão (temporariamente) cheia para seu tempo, livre ou não. Encontre a melhor maneira, e seja feliz. Pinte os canecos enquanto dona morte não vem. Quando dona morte chegar...
Olha, nada de ficar esperando, tá? Como você bem sabe, ela não tem hora mesmo, né?
Ciao!
PARA VOCÊ LER, COM TODA A DESATENÇÃO QUE DISPENSA NORMALMENTE A LEITURAS DISPENSÁVEIS
Impossível que assim não seja. O pacto aqui é de ócio, mesmo. Encontram-se, por mero acaso, um leitor desinteressado e um autor desinteressante, cada qual no seu papel, à falta de o que mais fazer.
Assim, ao dirigir-lhe a desnecessária palavra, sinto que somos igualmente culpados.
Puro passatempo. Nada, pois, de tentar entender, ou pior, compreender o sentido de minhas palavras. Por deliberação própria, elas não pretendem dizer nada mesmo, pretensão esta que garantidamente hão de cumprir.
Também, por que é que em vez de minhas insossas palavras, você não está lendo agora um desses clássicos imortais, hein? Ah, e se estrangeiro, no original.
Que nada. Pelo fato de ainda estar me lendo até agora, você sem dúvida nenhuma é daqueles que quando dá pra evitar um clássico nem por um segundo hesitam. Evitam, mesmo.
Nada há de errado com os tão reputados clássicos, mas eles nos predispõem negativamente. Um Homero, um Virgílio, um Camões, e todos os demais dessa mesma laia de gigantes, já de saída se nos assomam como qualquer coisa da qual estaríamos, no barato, a quilômetros de distância (e aquém, ainda por cima). Daí nossa indisposição para com aquele tom que se nos afigura pedantesco, aquela inatingibilidade sadicamente calculada, que já de cara nos humilha.
Profundidade demais, assim, não há medíocre que agüente. Muito aborrecidos, afinal, esses tais clássicos universais. Eu os acho.
Depois, cá entre nós, pra que diabos ficar escarafunchando os fundilhos da alma humana num cruel semi-desnudamento de certas verdades vá lá que profundas, mas sempre desencantadoras?
Depois ainda, pra que refletir? Isso é coisa só para uns poucos. Só mesmo certas aves raríssimas, detentoras daquela inegável superioridade que mais as estigmatiza do que distingue.
Mediocridade, ignorância, isso sim. É tão menos inquietante, tão menos diferenciador, tão menos raro, tão mais cômodo, tão mais igualante, tão mais e tão menos sei lá o quê mais. Nós, os oligofrênicos, os néscios, os apedeutas, os indoutos, os iletrados, os analfaburros, nós, o que mais nos chamem-nos Eles, nós é que formamos a esmagadora maioria. Sempre o fizemos, e digam o que quiserem dizer os advogados da falaz massificação da cultura, sempre a constituiremos. Por desconhecermos (eis o nosso verbo) nossa força, ignoramos também nosso direito à dignidade.
UNAMO-NOS JÁ. Está na hora da tomada de consciência! Vamos ecoar aos quatro ventos o som, mesmo que desafinado, de nosso hino-grito-de-guerra:
- O BURRO/ UNIDO/ JAMAIS SERÁ VENCIDO!
- O BURRO/ UNIDO/ JAMAIS SERÁ VENCIDO!
Percebe como não há sofrimento na leitura das banalidades ou baixezas produzidas por estilistas incompetentes? É que a gente não cresceu, não se aperfeiçoou, não evoluiu, não aprendeu porríssima nenhuma, e nada aconteceu contra nossa integridade de medíocres, nem contra nosso amiúde minúsculo amor-próprio. A única mudança (mas esta é inevitável) terá sido o envelhecimento correspondente ao tempo consumido na leitura de tais besteiras. Ah, mas os “outros” leitores também estão envelhecendo. Pelo menos quanto a eles, bem feito!
Normalmente, a gente nem se dá conta do envelhecimento. Cada segundo passado é um a mais na nossa idade, e um a menos na felizmente impredizível distância que nos aparta da morte.
Na infinita e cruel moção do tempo, lá vamos nós todos, os coevos do presente, sabendo muito bem pra onde e, a rigor, nada mais sabendo de certo. Quando sentimos a morte aproximar-se (o que já vinha acontecendo desde o nascimento, ou melhor, desde a concepção), é porque na verdade ela já chegou. Aí...
Destino comum, ela é fim necessário para toda e qualquer vida individual. E no geral, a vida continua. Sempre.
Chegar, ela chega mesmo, se se nasceu. Fatalmente, ela chega.
Última visita desagradável que temos de receber, é sempre na pior hora que ela chega, e raramente a convite. Nunca é bem-vinda e, pela idade que mesmo não aparentando com certeza ela tem, a pobrezinha já deve estar pra lá de acostumada a ser recebida do jeito que é, sempre sob protestos, com toda aquela choradeira e a maior má vontade.
Agora vir, ela vem mesmo. Isso é que vem.
E vem a pretexto de qualquer coisa, quando não sem pretexto nenhum, logo. Existem óbitos explícitos: causa mortis DESCONHECIDA.
Morre-se de medo, sim, mas também se morre ao manifestar coragem demais. De vergonha se morre, mas também de sem-vergonhice. De calor, mas também de frio. De sede se morre, mas de mitigar imoderadamente a sede também. Em qualquer lugar tem gente nas ruas morrendo de fome. A comida de rua também mata, e deve ser por isso mesmo que as mães costumam recomendar aos filhos que a evitem. Se doenças matam, por mais ridículo que pareça, e que me desculpem a franqueza os médicos e demais profissionais de saúde, no fim das contas o próprio exercício da medicina também mata de vez em quando, em seu próprio afã de atrasar ao máximo a visita garantida e inevitável da morte.
Morre-se em conseqüência de erros, tanto próprios como alheios. Mas também se morre, e muito, em conseqüência de acertos os mais variados (acerto de contas, acerto de pontaria, e por aí vai). E também tem gente aí morrendo por conta dos mais diversos desacertos.
Os versáteis, os que justificadamente se orgulham de tocar bem vários instrumentos, falar bem várias línguas, usar bem várias ferramentas, deveriam ver na morte o mais exponencial exemplo de versatilidade.
Não há nada de que ela não saiba como servir-se, e com que eficiência! Diga aí qualquer coisa que você acredita que não mate. Mesmo que nós não conheçamos nenhum caso de quem tenha morrido justamente dessa causa aí, é só “ela” ouvir e pronto, logo começarão a aparecer os primeiros óbitos.
Vejo a morte a servir-se igualmente de cada coisa... e também de seu contrário (que juntos formam uma coisa só). Ódio mata, amor também. Veneno mata, seu antídoto também. Uma arma mata, sua falta também. O ar (por exemplo, injetado na veia com uma seringa), a falta de ar; a pressa (no trânsito, nos herdeiros), e a falta de pressa. As batidas (em todos os sentidos dos respectivos homônimos), mais parto, aids, velhice, criancice, overdose (de qualquer coisa, pois tudo tem sua dose letal), cachaça, salário-mínimo, tudo isso comprovadamente mata melhor que Django e Sartana ao cubo.
Que posso fazer? É continuar, caneta a uma das mãos, a outra na consciência tão cheia da certeza de sua vinda como da ignorância de quando.
Paro aqui, ou prossigo? É claro que vai dar exatamente na mesma. O certo é que a morte vem. Nem adianta. E sempre restará muito mais por fazer do que o somatório do já feito.
O tempo disponível nunca foi nem jamais será suficiente para que bem possamos apreciar tudo quanto há de bom, por exemplo. Mas não dá, mesmo! Urge limitarmo-nos apenas ao melhor, e ainda assim com certas reservas. Não há tempo. Não há.
E aí você, sem nenhum espanto, lendo tudo o que eu escrevi e que sabida e consentidamente não leva e nem era pra levar a parte alguma, enquanto impiedoso e invariavelmente mal aproveitado, o tempo nem por um único instante parou de fazer o que só sabe: ir passando..., passando..., passando..., passando... ... ... ... .. .
Quanto desperdício! Considerável, mas dificilmente evitável desperdício.
Pela trigésima vez na vida, consegui desperdiçar um mais um ano inteiro, confesso. Isto porque hoje é dezoito de agosto. E sabe do que mais? Nutro ainda por cima uma baita duma esperança de alcançar a graça (sei lá que graça isso tem, mas vá lá) de ainda ter direito a muitos e muitos outros anos só para poder desperdiçá-los todinhos, vez após vez. Inescapável.
Fazer o quê com o tempo? Os anos nos ensinam coisas que os dias simplesmente não sabem, nem podem saber. E eu agora começo a ter consciência das décadas. Elas também, por sua vez, nos ensinam coisas que os anos simplesmente não sabem, nem podem saber. Estou entrando em minha quarta década, que se completará ainda dentro deste moribundo século. Na virada do novo século e milênio, estarei a meados da minha quinta década, a completar-se em dois mil e seis. E assim vai, e assim eu vou, ou melhor, os dias, os anos e as décadas vão me levando. E fica sempre aquela inevitável sensação de que a vida é curta. Pode ser. Mas também se faz bastante, se experimenta bastante, se sofre bastante, e no fim das contas a vida talvez nem seja mesmo tão curta assim como a queremos perceber. Poupar o tempo não dá. Nem emprestá-lo, nem roubá-lo, nem pô-lo a render ágio, nem aplicá-lo no open, nem depositá-lo como tudo o que tenho em minha ridícula conta corrente Bradesco, nem carregá-lo nos bolsos, nem especular com ele na bolsa, nem nada disso. Dá? Pra nada do que se faz com dinheiro o tempo serve. Não consigo entender por que cargas d'água tanta gente por aí acredita tão piamente que tempo é dinheiro. Cambada de débeis mentais!
Não posso permitir-me uma recomendação final de jamais desperdiçar seu precioso tempo! Se a fizesse, seria feia hipocrisia de minha parte. Que exemplo eu mesmo dou nesse sentido? E você também, ainda lendo essas minhas baboseiras trintonas. Logo eu, o maior descumpridor dessa enfim supérflua regra do não-desperdício. Que fique claro: eu desperdiço apenas meu tempo, já que a situação não me permite desperdiçar mais nada, pois mais nada eu tenho pra desperdiçar. Senão...
Pois o que eu lhe digo, amigo leitor, é bem outra coisa: desperdice, desperdice mesmo, dissipe, esbanje, inaproveite, jogue fora, seja um perdulário de mão (temporariamente) cheia para seu tempo, livre ou não. Encontre a melhor maneira, e seja feliz. Pinte os canecos enquanto dona morte não vem. Quando dona morte chegar...
Olha, nada de ficar esperando, tá? Como você bem sabe, ela não tem hora mesmo, né?
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