quarta-feira, 13 de maio de 2009

Adeus, Veleidades?

Tive um blog assim chamado, Veleidades. Era publicado no Globo Onliners. Nele iam minhas veleidades literárias, sim, como aqui também, no Bonde Andando.
Mas o Globo Onliners saiu do ar, e lá se foi meu blog, lá se foram todos os demais blogs que eu visitava, lia, comentava lá.

Muitos de meus contatos de então migraram aqui para o Blogspot. Com isto, vi aumentar bruscamente o movimento neste Bonde e também nos outros que aqui escrevo. A debandada dos amigos serviu para agitar a cena por estas bandas.

Ainda vou reprisar aqui alguma coisa já postada lá, o que aliás já vinha fazendo aleatoriamente. Hoje segue o primeiro post do blog agora extinto:


I - Inaugurando meu blog, mesmo sem inspiração
19/05/2008 - 19h29m

Hoje decidi inaugurar meu blog.

Não em grande estilo, como pretendi desde o início, pois estou sem a Inspiração, que esperei por todo este silêncio. Ela não veio espontânea. Quem sabe fui eu mesmo que não soube convidá-la. Ou então foi ela que trocou de mal comigo? Sei lá. Pra ela, só digo agora, à Pink Floyd: “I wish you were here”.

Mas, afinal, que blogueiro sou eu, que continua aí de blog virgem esse tempo todo? A Inspiração tem todo o direito de dar o ar de sua graça a quem bem entenda. Lamentavelmente, ao que parece, ela cismou de não querer dar mais pra mim. Pobre de mim, sem ela. Quem sabe eu tenha feito ou dito qualquer coisa e então ela ficou desse jeito aí comigo. Como é que eu vou saber? Acho que já tentei todo o possível, todo o pensável, mas nada. Elogiei-lhe os cabelos, simulei interesse no que ela estava vestindo (ela sabe muito bem que eu não consigo apreciar devidamente o que quer que ela esteja vestindo, já que sempre a prefiro nua, mas este fingido interesse às vezes cola, né?). Disse-lhe (inclusive sem mentira nenhuma) que gosto dela, que a amo, que sem ela minha vida não tem graça nem sentido. Nada. Ah, essas mulheres!

E ela está me fazendo uma falta! Aí eu resolvi inaugurar meu blog assim mesmo, de qualquer maneira. Mas estou esperançoso de ela ainda perceber este esforço que estou fazendo, de ela me compreender as intenções, que são tão boas quanto eu consigo... São boas mesmo, pode crer.

Tá vendo aí? Mesmo sem você, Inspiração, estou conseguindo escrever um tiquinho que seja. Claro que estou basicamente esticando desnecessária e maçantemente minhas orações (des)coordenadas, neste momento de íntima confusão. Nem tanto é por falta de o que dizer ou de saber como. Só que está saindo uma coisa toda descabida e desengonçada. Agora, saindo está, pelo menos, e isso já é o quanto basta, por ora.

Não tenho ainda leitorado certo, é claro, nem estou tão certo assim de que terei. É ver pra crer. Mas acho o GO uma boa tribuna, para onde eu posso levar as poucas bandeiras das quais a essa altura do campeonato ainda não desisti. Um bom púlpito, de onde posso pregar as poucas coisas nas quais ainda acredito. Ou até uma boa bigorna, onde posso meter o malho nas tantas coisas que ainda me dou o trabalho de malhar. Sei lá. Tem quem use blog para praticamente qualquer finalidade, desde mostrar fotos e vídeos de seus animais de estimação, por exemplo, até expor alguma produção artesanal ou artística. Tem quem use blog para os mais variados fins. Um blog pode vir a ser uma infinidade de coisas. Este aqui será, principalmente, o veículo das minhas palavras.

Contar aqui minhas peripécias de tradutor freelancer não me parece a melhor pedida. De repente, também posso mudar de idéia e fazer deste blog um recanto destinado a intelectuais, e aqui escrever pra eles, ou seja, condenar meu blog a ter um número bem reduzido de leitores. E ainda por cima, na melhor das hipóteses, arranjar um leitorado pra lá de exigente em termos qualitativos. Será que eu agüento isso?

Talvez venha a postar os poemas que escrevo nas horas vagas. Pelo menos os escritos em português. Isso até tem quem leia. E comente, também. Honestamente, eu mesmo não os acho tão bons assim. Por isso mesmo, jamais me esforcei por publicá-los onde quer que seja. Arrisco-me vez em quando a versejar em francês, em inglês. Só que não mostro quase nunca. É um exercício só pra fazer alguma coisa com meu poliglotismo e com o que aprendi nos tantos tratados de versificação que por décadas andei lendo. O único francês com quem tenho contato pessoal no momento, um colega tradutor, leu alguns versejos meus em sua língua e me disse por e-mail que gostou. Talvez fosse hora de produzir mais e mostrar pros francófonos que não conheço. Sabe-se lá. Eles são muitos, são milhões, e quem sabe aí não esteja uma chance de mais alguns gostarem, o que de fato me motivaria a continuar.

Tudo isso não passa de maluquices minhas, enfim. Com os versos que escrevo em inglês dá-se exatamente o mesmo. Não mostro porque não tenho pra quem mostrar, principalmente.

Já os versos em português, essa é uma história um pouco mais complicada. Praticamente não tenho a quem mostrar pessoalmente, também, embora resida num país onde esta é a língua falada. É que eu não convivo com praticamente ninguém que aprecie versos. Muito menos ainda os meus. Eles geralmente obedecem a metro e rima, sim, mas será que é só por isso?

Bem, estou com o Sérgio Bittencourt, que disse numa de suas canções: “ninguém é poeta por saber rimar”, ou alguma coisa quase assim. Estou citando de memória, e a canção é de um tempo em que eu mal deixara de ser caso pediátrico. Ou seja, faz é tempo.

Estou com 51 anos. Nasci no início do governo Juscelino, em Porto Alegre, RS. Porto Alegre agora é um passado bem remoto. Sou um gaúcho acidental, filho de baiano com mineira. Tenho inclusive um irmão mais velho e um casal de irmãos mais novos também gaúchos por acidente, como eu. Moramos todos hoje em outro Rio, que nem é Grande nem é do Sul, mas de Janeiro. Baixada Fluminense, a maioria.

Mas por enquanto é o que basta. O blog já está devidamente inaugurado. Dias melhores virão. A própria inspiração para escrever pode ser que ainda volte. Voltando ou não, o hábito de escrever carece de exercício. Pra isso eu já posso agora prescindir do velho método do lápis (com borracha e tudo) e papel, bem como da velha e inexorável gaveta como destino certo ou mais provável do que for saindo. Chega disso, então. Agora, pelo menos, já existe este blog.