segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Resgate de um texto original

Neste weekend aconteceu algo insólito.

Vi meu irmão, que aniversariara na sexta e é autor do original cujas traduções minhas ao inglês e ao francês foram postadas então. Dei-lhe como presente de aniversário o printout da última postagem que fizera neste blog.

Após tomar conhecimento disto, ele foi a seus guardados e me trouxe um manuscrito onde prontamente reconheci minha própria caligrafia. Eu não lembrava mais, mas nós recompuséramos (com base nas traduções já publicadas) o original que fora acidentamente queimado.

Então ele releu uma última vez seu texto e após uns poucos palpites que discutimos, aprovou a forma que agora apresento aqui. Ei-la:

"Escrever é sempre um grande desafio. Nota-se que todos encontramos dificuldades quando queremos manifestar, em escrito, o que pensamos. Volta e meia, estas dificuldades nos envolvem com mais expressividade. Sentimos na pele a existência de situações embaraçosas quando, por exemplo, tentamos nos lembrar da palavra ou expressão indispensável em certas ocasiões. Coisas assim nos atormentam o espírito. Existe uma batalha constante em busca das palavras ou expressões mais adequadas.
Quem se dá ao trabalho de escrever percebe, conscientemente ou não, os efeitos naturais deste fenômeno. É como quem se atreve a entrar numa floresta maravilhosa, infinita e cheia de perigos. Então, os encantos que a magia dessa natureza oferece vão atraindo mais e mais. E pouco a pouco, surgem as primeiras surpresas. Observa-se minuciosamente uma harmonia impressionante entre o gorjeio maravilhoso dos pássaros e a aspereza sussurrante das quedas d’água. As borboletas, com aquele multicolorido alegre e exuberante, vivificam e fazem desaparecer a monotonia visual do verde sem fim do bosque. Eles conhecem a fundo a beleza que há na lei de toda a charneca. A troca maravilhosa e equilibradíssima de benefícios entre os reinos animal, vegetal e mineral. Sente-se então um desejo implacável de continuar a jornada. Tudo faz bem aos cinco sentidos, em todos os sentidos:
- é a cantilena dos pássaros que nos faz bem à audição;
- é a flora, repleta de árvores frondosas, que quase não deixam os raios solares chegarem ao chão coberto de relva, que nos presenteia a visão;
- é o perfume alucinante que toda a flora exala, que nos envaidece o olfato;
- é o contato direto e salutar com a água cristalina do riacho, que nos estimula o tato;
- é a fruta madura colhida e consumida muito mais por diversão ou prazer do que por necessidade, que nos aguça o paladar.
E o indivíduo acaba perdendo-se neste mundo sem fim de coisas tão maravilhosas.
Eis o que acontece com quem não resiste à tentação de satisfazer o desejo de escrever o que lhe pede a emoção."

16 comentários:

Hermínia Nadais disse...

Tão cheio de graça e verdade!... Gostei muito. Bjitos

João Esteves disse...

Obrigado pela visita e comentário, Hermínia. Bjitos retribuídos.

AM disse...

who?why doubt?of what?

João Esteves disse...

No doubt now, Am. It's just a philosopher's mania, to be always doubting. I'm not philosophical now.

mundo azul disse...

Um texto que disserta a dificuldade da escrita...
Realmente, é preciso ter amor pelas letras, conhecimento e capricho no escrever qualquer texto!

Vim agradecer sua visita e saio bastante satisfeita pelo que li...

Beijos de luz e um domingo feliz!

João Esteves disse...

Obrigado, Mundo Azul. Seja sempre bem vinda por aqui. Honra-me recebê-la.

Leticia Gabian disse...

Sempre atendo ao apelo da emoção, em tudo que faço.

Vim dar uma voltinha no seu "Bonde" e agradecer à sua visita.

Deixo um abraço

João Esteves disse...

Agradeço-lhe esta visita de retribuição, Letícia. Escusado é dizer que ainda visitarei seu blog mais vezes, pra ter mais depoimentos sobre o seu já provado bom gosto.

ISABEL CARDOSO MAGNUS VIEIRA disse...

OLÁ NEO-ORKUTEIRO.
VENHO AGRADECER TUA VISITA E PARABENIZAR-LHE PELAS BELAS PALAVRAS QUE NO BONDE ESCREVESTES.
SOU NOVATA NESTA COISA DE BLOG E AFINS, E TENHO UM POUCO DE RECEIO AO BISBILHOTAR OS OUTROS E AINDA DEIXAR RECADOS, MAS VOU APRENDER...
JÁ SALVEI O SEU NOS MEUS FAVORITOS, VISITAREI SEMPRE QUE PUDER E PEÇO DESCULPAS ADIANTADAS CASO NÃO DEIXE TANTOS RECADOS.
UM ABRAÇO GAÚCHO DA TUA MAIS NOVA VISITANTE, ISABEL.

João Esteves disse...

Muito bem vinda é você, gaúcha. Meu blog não diz com a mesma explicitude do seu que quem queira aqui bisbilhotar e comentar, pode, mas é claro que pode, também. Seu comprovado bom gosto e seu amor à arte a recomendam bem. Valeu mesmo sua visita de retribuição. Obrigado. Volte e comente quantas vezes tenha vontade. E que você tenha mesmo vontade, é o que espero.

Renata Costa disse...

Ola amigo blogueiro. Foi com grande satisfaçao que vi que andou me visitando e comentando meus posts.
Esse texto consegue mostrar um pouco do que e escrever...de todo o sentimento que envolve esse ato que parece tao simples, mas e tao complexo e unico.
Beijos e ate qualquer hora dessas pelos blogs da vida
Renata

João Esteves disse...

Que prazer receber você, Renata. Beijos retribuídos e até qualquer hora ...

Anônimo disse...

João
Belíssimas metáforas do Verbo, soube descrever através dos sentidos, a grandeza das palavras...
Os poemas são jóias raras e o poeta ,o ourives...
Tenho sentimento de orgulho e de inveja, paradoxalmente ao ateu exercício lúdico
e O VERBO se fez carne e habitou entre nós

Bjs


Mary

João Esteves disse...

Obrigado, Mary, por ter-me visitado aqui, em atendimento a minha solicitação. Amiga é pra essas coisas, e você sem dúvida é amiga, mesmo. Valeu. Meu coração pra você.

Caçadora de Emoções disse...

Vim retribuir a visita ao meu Refúgio...
Gostei bastante deste texto sobre a aventura da escrita.
Prometo voltar.
Deixo aqui abraços e um sorriso :)

João Esteves disse...

Obrigado, Caçadora de Emoções, por ter vindo. Espero que não se esqueça do prometido de voltar, pois sua presença aqui é muito agradável. Vejo nos olhos (muito bonitos, aliás) da foto o sorriso deixado com o abraço neste post. Sita-os retribuídos.