sábado, 10 de setembro de 2011

Joshua Bell no metrô

Joshua Bell é um músico ainda relativamente jovem mas já bem consagrado. Ele normalmente se apresenta para apreciadores de boa música em lugares altamente sofisticados com seu extremamente raro, caro e bem tocado violino.

Recentemente ele tocou por mais de meia hora numa estação de metrô americana. Não foi reconhecido nem conseguiu arrebatar a atenção dos que entravam e saíam com a pressa costumeira.

Reconhece-se o grande valor artístico de algo (ou alguém) que se encontra dentro de determinado contexto. Fora dele, no entanto, um artista renomado passa facilmente por um obscuro aspirante à notoriedade.

Se um chef dos mais exitosos do mundo passasse coisa de uma hora dentro de um quiosque bem simples numa esquina movimentada de qualquer metrópole oferecendo amostras de suas requintadas iguarias, será que elas seriam devidamente apreciadas? Se um detentor do prêmio Nobel aparecesse sozinho numa praça e discursasse sem dizer quem era nem mencionar seu prêmio, será que muitos parariam para ouvi-lo? Sabe-se lá.

Márcio Borges conta em livro um episódio ocorrido com Milton Nascimento. Sem documentos, ele teve problemas na entrada para um mega evento do qual participou, no Rio de Janeiro. Segundo um dos escaldados seguranças, parece que vários sósias já haviam tentado se aproveitar da semelhança (reforçada por um boné) para não pagar ingresso. Claro que o verdadeiro Milton acabou entrando, mas dadas as circunstâncias não foi com a facilidade que se poderia razoavelmente esperar.
Conta-se que Charlie Chaplin participou incógnito de um concurso de sósias de seu personagem. Foi ao evento caracterizado, inscreveu-se normalmente e... perdeu. Fazer o que? Outros concorrentes se pareciam mais com Carlitos do que seu próprio criador.

É sabido que as estrelas midiáticas costumam recorrer a variados disfarces para evitar o indesejado reconhecimento em certos lugares públicos. São atletas, políticos, artistas, empresários, que vivem fugindo de paparazzi.

Entretanto, existem notoriedades discretas. Por exemplo, cada uma das tantas especialidades da medicina tem seu expoente, mas quem é que sabe o nome de um notável alergologista, urologista, obstetra, traumatologista, e olha que a lista é longa. Pergunte por aí quantos juízes do trabalho as pessoas conhecem por nome, fora um certo Nicolau de avô homônimo. Muito improvável.

Acho possível que a experiência com Joshua Bell e seu violino tivesse igual resultado com Ana Vidovic e seu violão, ou até com Kenny G e seu sax (desde que ele não tocasse o tema de Dying Young). Fora do habitual contexto, bem que poderiam igualmente ficar irreconhecíveis e não ser lá muito apreciados.

Foi graças a um e-mal que recebi de minha amiga escritora, artista plástica e também passageira aqui do bonde Terê Tavares que fiquei sabendo deste grande artista. Gostei do que vi e ouvi por primeira vez na vida. Se tivesse um tempinho e me achasse exatamente onde se deu a mencionada apresentação, pelo que me conheço tenho certeza que me deteria nem que só um pouco para apreciar. Faço isso sempre que algum artista anônimo de rua mostra alguma coisa que me pareça interessante. Muita vez é mesmo.

31 comentários:

São disse...

Conhecia a estória.

Isto só me confirma a impressão de que determinadas pessoas apreciam mais o contexto do que o artista!

Saudações

João Esteves disse...

A impressão que tenho repetidas vezes é exatamente a mesma, São. Obrigado pela visita e comentário.
Saudações.

chica disse...

Recebi também e é de impressionar. E li dias atrás num blog de uma amiga que pode assistir um show seu e ficou encantada! Legal! abraços,chica

João Esteves disse...

Obrgigado, Chica, pelo passeio de bonde. Penso também que aquela mixaria que deram pro Joshua Bell no mertrô parecesse razoável para uma multidão de artistas anônimos, que quem sabe recolham ainda menos.

Desnuda disse...

Boa noite, João!


Gostei muito do desenvolvimento e dos questionamentos. Sobre Joshua Bell, foi exatamente através de um blog há uns três anos que fiquei sabendo da façanha e do músico extraordinário que é. Lembro que fui contar a novidade para minha filha caçula e ela já o conhecia. Portanto, há esperança que não só nós ( eu também páro sempre)mas muitos jovens certamente iriam parar ante um espetáculo como este. Sobre o que você disse e ilustrou ricamente com fatos curiosos ( desconhecia muitos e adorei saber) não resta dúvida que a grande parcela da sociedade deixa passar longe a sensibilidade e ficam atraídos pelo que “ rola” na mídia, modismo e etc, sem muito questionamento do valor e da qualidade.


Beijos com carinho e bom fim de semana.

João Esteves disse...

Pois é, Sarinha. A sensibilidade pública atendendo coordenadas midiáticas, de mercado e coisa e tal. Lamentável isso, a meu ver. E como você aponta, nem tudo está perdido. Obrigado pelo passeio de bonde.
Beijos com carinho e bom fim de semana pra você também.

Tere Tavares disse...

És um cronista e tanto João.
Um brinde aos bons ouvidos.
Mas eu também vi num outro e-mail, numa outra estação, que o público parou para ouvir cantores de uma afamada ópera, que agora me foge à memória, ou seja, a esperança nunca morre!
Abraço musical!

Tere Tavares disse...

Ah, achei o vídeo de que falei. Ei-lo:
Opera Company of Philadelphia "Flash Brindisi" at Reading Terminal Market (April 24, 2010)
http://www.youtube.com/watch?v=_zmwRitYO3w

Great!

João Esteves disse...

Beleza, Terê, e de fato nem tudo está perdido, é bem verdade.
A propósito estou chegando da casa de um artista muito jovem, bem dizer em idade pediátrica. Ouvi-o tocar por um bom tempo (em ambos os sentidos), e foi bom, mesmo. Promossor, pra dizer o menos.
Obrigado pelo link do vídeo e por ter vindo nesse passeio de bonde a que você deu ensejo, inspirando-o.
Abraço musica.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Eu tenho uma enorme admiração pelas
artistas de rua e respeito.
Obrigada por este texto.
Beijo
Irene

João Esteves disse...

Sou eu quem lhe agradece, Irene, pelo passeio de bonde.

Luísa Nogueira disse...

Oi João, é assim mesmo, não damos o devido valor sem saber nome e endereço (rs), não é?

Amigo, amei lhe reencontrar no Multivias! Você sabe, suas idéias e sugestões nos incentivam na continuidade de nosso trabalho.

Um bom final de semana!

Hermínia Nadais disse...

História interessante

João Esteves disse...

Luísa, de nada.
O Multivias já é um dos notáveis da blogosfera. Bom, a autora deste ecologicamente correto blog se dispõe a passear neste bonde virtual e seguro.
Tudo de bom.

João Esteves disse...

Obrigado pela visita, Hermínia.

João Esteves disse...

Obrigado pela visita, Hermínia.

Graça Lacerda disse...

João,

Muito bom dia, amigo!

Dias atrás estava eu oferecendo uma música no Facebook para os amigos...
Imagine se não era nada menos que Joshua Bell!!
Amo esse artista de paixão.
Confira essa lindeza:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=c4RIPjk6Jh4

Deixo-te por aqui, de presente, pois não soube fazer isto lá no facebook...
Curta.

*****

Quanto aos seus outros exemplos, querido, gostei de saber sobre Chaplin! que fato interessante, é incrível como as pessoas não se atêm ao que realmente interessa, são meio que "enfeitiçadas" pelo geral, pelo superficial...

Assim como você, CLARO que eu reconheceria alguém anônimo numa multidão, se esse anônimo não fosse tão anônimo assim...

Um forte abraço, amigão. Nosso Lexicoterapia já pegou o Bonde! EITA!rs

João Esteves disse...

Várias boas novas, não é, Graça? Beleza. Obrigado pela visita e comentário, bem como pelo link deixado, que garamntidamente conferirei. Forte abraço.

Carmélia Cândida disse...

Você tem razão. O valor artístico de algo ou alguém é reconhecido dentro de determinado contexto. Quando vi a reportagem, não pensei por esse lado. Gostei da sua análise!
Vou explorar mais o bonde!

João Esteves disse...

Carmélia, obrigado por vir prestigiar o Bonde, nova ilustre passageira. Passeie quantas mais vezes queira (e queira mesmo, tá?).

Eloah Borda disse...

Obrigada, João, por tua visita ao meu blog e comentário sobre meu videopoema. Concordo com a Tere Tavares sobre seres um cronista e tanto, realmente o és, gosto muito de "te ler", pena que ando sempre às voltas com meu pouco tempo disponível, sempre na correria.
Um grande abraço.
Eloah

João Esteves disse...

Espero que haja mais pausas nas suas correrias, Eloá. Pausas breves pra tomar fôlego e até mais prolongadas passear mais de bonde. Mas é assim mesmo. Minha pauta de visitas a fazer na blogosfera está sempre atrasada.
Grande abraço

Smareis disse...

Oi João obrigada pela presença, gostei muito em te ver por lá. Excelente post...Gosto muito de Joshua Bell, não conhecia a respeito da história dele. Muito bom ler. Obrigada pela partilha. Ótimo fim de semana.
Vou estar seguindo pra voltar outras vezes, se puder siga de volta. Abraço amigo!

Smareis disse...

Oi João obrigada pela presença, gostei muito em te ver por lá. Excelente post...Gosto muito de Joshua Bell, não conhecia a respeito da história dele. Muito bom ler. Obrigada pela partilha. Ótimo fim de semana.
Vou estar seguindo pra voltar outras vezes, se puder siga de volta. Abraço amigo!

João Esteves disse...

Bem vinda então ao bonde, ilustre passageira Smareis.
Abraço amigo.

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Olá João
Gostei do texto. A realidade evidencia como funciona a atenção.
Não conhecia esse artista, vou procurar na internet.
Saudades, um abraço

João Esteves disse...

Isso mesmo, Salete.
Você vai gostar, ele é muito bom.
Também estava com saudade de você aqui, passeando de bonde.
Abraço.

Lais Castro disse...

Texto muito interessante. Agradeço pro me apresentar a Joshua Bell.

fabulosafabuladora disse...

Olá!
Isto mostra como a gente precisa aprender a apreciar as coisas pelo sentido verdadeiro que elas tem, e não por questões de superficialidade.

João Esteves disse...

Laís, seu comentário só foi visto com meses de atraso, não sei por que motivo, mas mesmo fora de tempo, meus agradecimentos pela presença e comentário.

João Esteves disse...

Olá,Fabulosafabuladora. Também acho isso, somos bem mais influenciados do que percebemos por embalagens, contextos e tal e coisa. O superficial parece dar o tom na maioria das vezes. Obrigado pela visita.