Pincei estes dados meio aleatoriamente na página do dia da Wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/23_de_janeiro
Mas vinte e três de janeiro é data gravada indelevelmente em minha outrora tão boa, hoje tão má memória, por motivo outríssimo. Neste dia e no meu ano nasceu uma amiga bióloga e tradutora cujo paradeiro atualmente ignoro, e também uma amiga da minha filha de quem falo aqui, chamada Maybell, que tem um filhinho chamado João e agora espera outro, como soube pelo Facebook, mas principalmente foi o dia em que nasceu Danusa, que não é (pelo menos até agora, que eu saiba) famosa nem virou verbete de nenhuma enciclopédia. Lembro ainda claramente como foi difícil o parto. Eu estava com vinte e três. O ano: 1980.
Em idade escolar, Danusa lembrava a Mônica do gibi e seus colegas eram uns Cebolinhas, Cascões e companhia. Só faltava o coelhinho.
Outra recordação dessa época é ela chorando, e exatamente assim explicando seu medo de pular uma poça d’água: “Eu sou estabanada!”
Mais crescidinha, revelou um certo talento dramático que sempre admirei babosamente, agregue-se aí um pouco de corujice minha, vá lá, mas enfim um talento. Fazia imitações muito boas, que sempre foi atenta observadora de trejeitos pessoais em praticamente todo mundo. A única vez que fui a um teatro sem qualquer informação sobre a peça nem a direção nem nada foi no Teatro do Sesc. Eu só queria ver subirem ao palco duas atrizes de idêntico DNA. Vi-me por assim dizer inteiro naquele palco, cinquenta por cento em cada uma daquelas duas atrizes jovens, belas, talentosas, bem deixa eu parar de desfilar adjetivos pra elas aqui porque meu vocabulário todo fica pobre pra refletir todas as boas qualidades que nelas eu via e continuo vendo.
Estaria Danusa já pelos quatorze, quinze anos, quando lhe perguntei de que maneira ela queria ser feliz na vida. Nunca mais esqueci. Segundo sua imaginação adolescente, dava muito bem pra ser feliz “pilotando” um fogão, cuidando da casa, das crianças (no plural, mesmo), essas coisas. Só? Só. A simplicidade daquela resposta me impressionou profundamente. Achei-a sábia. E logo eu, que torço até pela felicidade de pessoas que nem sequer conheço ou até pela de quem não gosto mesmo, quanto mais então pela dela, que eu amo
anos-luz mais do que dá pra dizer.
Num dos livros do Velho Testamento, o dos Provérbios, no capítulo 14, verso 1, lê-se: “Toda mulher sábia edifica a sua casa; ...”.
Pois a (pra mim) principal aniversariante do dia cursou filosofia na UFRJ, pedagogia na UERJ, tudo isso enquanto trabalhava na Funarte (uns dez anos ao todo), mas sua vida agora é bucólica, com suas lindinhas Olívia e Violeta.
O número de vezes que a vi nessa última meia dúzia de anos, do casamento dela pra cá, dá pra contar nos dedos. E sobram mais dedos do que os contados. Ela ficou morando naquele lugar que achei muito, mas muito bonito, longe dos meus olhos, no interior de Minas.
Feliz, como muito improvavelmente ainda se lembre hoje que um dia me disse que queria ser, mas enfim feliz, isto é o que importa, e eu gosto muito de saber que assim é.
Feliz aniversário, querida.