segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Subindo o Nível

Pedi a minha amiga Rosângela Vieira Rocha a devida permissão para transcrever aqui uma postagem que ela publicou em sua página Facebook do dia 4 passado (É meu o itálico):

“Estou empenhada, junto com outras pessoas, incluindo a escritora Stella Maris Rezende, numa campanha com vistas a melhorar o nível das discussões por aqui. Pelo menos quanto às regras, que qualquer "jogo" tem: não ofender os interlocutores, expor as ideias sem entrar no terreno pessoal, não fugir do assunto, e muitas coisas mais. Aceitamos pessoas pra dar ideias e fortalecer essa nossa corrente. Penso que, se passarmos a repetir exaustivamente em postagens públicas o beabá de qualquer discussão civilizada, pode ser que lancemos alguma sementinha. Água mole em pedra dura... Quem sabe, não é? Temos de tentar e ver. Tudo isso em nome da civilidade, da urbanidade, da boa educação. E do bem-estar de todos, enfim”

Stella Maris, também minha amiga FB, manifesta-se a respeito disso nos seguintes termos, que também transcrevo abaixo, igualmente com a devida autorização dela (É meu o itálico):

“Vamos reaprender a discutir ideias! Sem ofender os interlocutores, como bem diz a querida Rosângela Vieira Rocha. Sem entrar no jogo do ódio, da hipocrisia, do cinismo e do egoísmo. Reaprender a trabalhar por um Brasil mais justo e mais digno, vamos? Não somos de desistir da vida, somos? Mesmo tristes e perplexos, vamos dar um revestrés nessa história toda, vamos? De que modo?! Vamos descobrir juntos. Juntos.”

Será que é mesmo assim, como nas palavras da Rosângela? Você já viu alguma troca de ofensas pessoais na internet? Eu já, e muitas. Até perdi a conta. Já viu alguma discussão ser levada claramente de propósito para o lado pessoal? Eu vejo isso o tempo inteiro. Já viu o tema tratado em alguma publicação ser desviado de forma busca e inequivocamente deliberada? Cansei de ver isso, também.

Teria razão a Stella ao se referir a ódio, hipocrisia, cinismo, egoísmo? A meu ver, abundam as instâncias em que estas palavras descrevem à perfeição o que vai por trás de um enorme número de “contribuições”.

Poderia facilmente recolher uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos contendo desses abusos em questão de minutos ali, no próprio Facebook, bem como em muitos outros lugares virtuais que conheço onde as pessoas têm espaço para comentar o que encontram publicado. É simplesmente estarrecedor. O nível geral anda muito abaixo do mínimo aceitável. Xingamentos em termos cujo calão talvez envergonhasse a própria Dercy Gonçalves por conta de alguma mera discordância de opinião são sintoma de que a comunicação interpessoal pela internet anda sofrendo contaminação num grau dificilmente suportável. O desrespeito brutal à pessoa humana virou fato tão corriqueiro que desagrada, desgosta e até choca quem ainda conserve um senso de adequação e respeito, de decoro, de urbanidade. Mas tudo isso facilmente lá se encontra e via de regra permanece.

Passo, portanto, a participar desta iniciativa de fato ambiciosa, mas muito honesta e bem motivada, colocando meus esforços e energias pessoais à inteira disposição dessa causa que reputo justa, nobre, elevada.

Este meu blog, por exemplo, sempre pareceu relativamente imune aos ataques importunos de pessoas que em outros lugares invariavelmente saem de seu precioso silêncio para fazer a mais vulgar trolagem, com objetivos absolutamente objetáveis, conseguindo muita vez fazer com que o nível do que se tenta discutir com dignidade e respeito simplesmente despenque, fato pra lá de comum e no mínimo lamentável.

Não faço nenhuma ideia de a que se deva exatamente esta imunidade, mas convenhamos que meu próprio modo de redigir minhas postagens, assim como a postura geral de meus comentaristas, são sempre altamente respeitosos. Até mesmo quando me revolto ou insurjo contra alguma coisa do momento, jamais desço ao nível de xingar ninguém, de dizer obscenidades gratuitas, nada mesmo. Deus me livre e guarde de qualquer coisa o mais minimamente parecida (ou o mais minimamente compatível) com isso. Talvez seja justamente por este motivo que os estragadores de festa sempre de plantão em tantos lugares virtuais aqui se deem conta de que não foram jamais convidados e percebam por si mesmos que o que têm a apresentar como contribuição destoa completamente de tudo e todos aqui, e me façam o grande favor (que aproveito logo o ensejo para agradecer) de irem "baixar noutro centro" com suas baixezas, suas rudezas, suas chulices, sua inconveniência proposital e tudo o mais que lhes é peculiar.

A partir de agora, este blog se coloca a serviço de um ideal que vislumbro com esperança. Isso mesmo: esperança. Venham examiná-lo e concluam se ele corresponde ou não ao que aqui afirmo. Comentem tudo o que considerarem pertinente. Queiram apresentar todas as correções, sugestões, criticas, de seja que investidura for. Mostrem-me por favor os posts ou mesmo pequenos trechos que pareçam em franca contradição ou desarmonia com as próprias regras que passarei a pregar como se eu aqui me encontrasse num púlpito, numa tribuna ou num palanque. Aceito de bom grado tudo o que aqui chegue e garanto desde já minhas boas vindas a todos os possíveis comentaristas que desta postagem tomem conhecimento.

Não ignoro o fato de que este blog goza de relativamente pouca visibilidade, tampouco o de que não seria nada realista de minha parte esperar que ele algum dia ainda venha a fazer sucesso de tipo estrondoso na blogosfera. Sei perfeitamente que sempre foram relativamente poucas as pessoas que o conhecem e visitam. Escrevo aqui apenas porque gosto de escrever. Sei que praticamente ninguém de meu convívio imediato costuma vir aqui. Foi surpresa para mim quando, faz poucos dias, vi de repente meu filho mais jovem (22 anos) lendo em seu tablet alguns escritos autorais em verso que tenho publicado num site de escritores. E ele no momento estava interessado. Tal interesse, até onde eu saiba, foi totalmente espontâneo, pontual e também um tanto atípico, inesperado mesmo. Aquele momento envolvendo ambos os Joões, o velho e o moço, foi nada menos que santo de casa fazendo o que realmente não costuma.

Sou tradutor profissional desde 1985. Há bastantes grupos de discussão para tradutores no mundo virtual. Eles prestam relevantes serviços, por exemplo aquele "S.O.S." quando se necessita de uma solução boa e urgente para algo que simplesmente não consta nos dicionários nem nas demais obras de referência à mão para o par de idiomas do momento, situação com que muito natural e corriqueiramente se depara quem traduz de forma habitual. Pois bem, acabei simplesmente abandonando vários destes grupos em que me inscrevera para dar e pedir ajuda de emergência por conta sabem do quê? Exatamente do péssimo comportamento que alguns colegas ali apresentavam. Era chegar com uma consulta ou resposta e aparecerem, em vez de comentários que realmente acrescentassem alguma coisa, brincadeiras de péssimo gosto e em linguagem que não depunha nada a favor de quem a estava empregando, inclusive frequentes xingamentos. E ali eram (ou melhor, são) profissionais, pessoas de quem jamais se haveria de esperar esse tipo de comportamento, ainda mais em público. Pensei então com meus botões: que é que eu ainda estou fazendo aqui? Respondi com ação. Simplesmente me retirei. Ponto.

Agora me surge essa proposta explícita de subir o nível, certamente motivada pelo repúdio a este estado de barbárie que se instalou em certos sites que bem poderiam de outra forma prestar serviços incomparavelmente melhores ao entendimento de coisas, à busca de solução para problemas e à própria satisfação da boa convivência, bem como por uma visão inspirada de que talvez nem tudo ainda esteja completamente perdido, de que ainda se possa recuperar espaços onde a deterioração e a poluição já fizeram estragos suficientes para empobrecer e desumanizar relações que poderiam ser totalmente outra coisa, e coisa muito, mas muito melhor.

Que conseguiremos a curto, médio ou longo prazo? Não há como predizer, nem com bola de cristal. Mas é certo que me disponho a participar desses esforços ainda incipientes e embrionários no sentido visado, o de elevar o nível geral das conversas abertas ao público pela internet. Conseguiremos tanto? Sei lá. A simples oportunidade de me alinhar com quem se propõe a contribuir para a criação ou recuperação de um ambiente virtual mais digno, mais respeitoso, mais acolhedor, onde se experimente bem mais prazer, se sinta bem mais utilidade e orgulho ao participar, só isto a meu ver já vale e longe a pena, não importa que resultados concretos ainda venhamos a obter. E é o quanto me basta. Vivamos e vejamos.

7 comentários:

☆Lu Cavichioli disse...

Oi João, aplaudo o texto e apoio as ideias de bem querência e afins para a melhoria do relacionamento virtual.

Muitos desencontros tenho percebido, bem como atritos tão ínfimos, mas que se transformam em algo devastador.

Comigo já rolou tal coisa e perdi amizades de anos por causa disso.
O ser humano neste século de barbáries, perdeu o senso de solidariedade, de respeito ao outro, de união e complacência. Só vemos copos de ódio sendo destilados em bocas outras que repassam e até se derramam em nós e que podem ou não contaminar... depende de cada um.

Quero estar nesse projeto e desde já parabenizo suas amigas por essa iniciativa em resgate do bem comum, da amizade, do respeito às opiniões alheias, sejam elas quais forem.

Desde o tempo do Quiosque meu amigo, você já arrasava em suas postagens e mais, eu adoro esse seu português exemplar, bem falado e bem escrito. Nossa língua é valiosa, vamos recuperar isso também, se pudermos.

Meu afeto
abraços

João Esteves disse...

Muito obrigado, Lu, pela presença e pelo comentário. Fazia já bastante tempo desde a última visita sua ante desta. Sempre um prazer, anfitrionar você.
Meu afeto
abraços

☆Lu Cavichioli disse...

Muito grata, João. O prazer é meu!

abração!!

Milene Lima disse...

Há muita urgência, inclusive para as discórdias disfarçadas de debates. Total razão, João, só pra rimar um pouco. Parabéns às suas amigas pela ideia e a você por levar adiante. Beijão, João.

João Esteves disse...

Obrigado pela presença aqui no Bonde, Milene. Sempre bem vinda, você sabe não é de hoje. Experimento alegria ao ver o Bonde novamente andando, recebendo pessoas como você. Engraçado: João rima com razão. E não que rima mesmo? E com beijão também.
Só para ser coerente com minha antiga prática aqui, encerro retomando as próprias palavras dessa interlocutora tão apreciada, pena que sem rima.
Beijão, Milene

MARILENE disse...

João, é um prazer ler o que escreve. Há elegância em seus posicionamentos, em sua linguagem. A iniciativa é bela e creio que a maioria das pessoas realmente civilizadas concordam com a proposta. Nos meus espaços, graças a Deus, nunca tive problemas com discussões e ofensas, que abomino. Estou afastada dos blogues e, vez ou outra, coloco algo no face. Quando faço visitas, por lá, fico pasma com o nível das manifestações, quando não há consenso de ideias. Para ser sincera, opto pelo silêncio. Não participo de discussões onde não há espaço para o respeito. Grande abraço!

João Esteves disse...

Marilene, também tenho bastante prazer quando leio o que você escreve. O visível zelo que põe no uso da linguagem é algo exemplar. Você é das nossas. Acho uma pena que os predadores e as cizânias já tenham bem mais visibilidade na internet que a exemplaridade, aparentemente cada vez mais rara. Como pessoa civilizada, é óbvio que você nos compreende e apoia. Opta pelo silêncio onde não haja espaço para o respeito e isto é boa política, sim. Mas acreditamos que podemos ir além disso. Bons exemplos como o seu constituem importante apoio ao que pretendemos fazer. Grande abraço!