Invariavelmente, a cada trinta e um de agosto torno a evocar uma recordação das mais gratas de minha vida. Lembro-me perfeitamente de como me senti a trinta e um de agosto em 78. Eu estava muito, muito feliz. Sentia-me em grandiosa sintonia com o universo inteiro, por assim dizer. Por exemplo, todas as várias canções que por acaso ouvi tocar em todos os lugares onde estive ou por onde passei naquele dia eram canções de que eu realmente gostava, e foram muitas mesmo, o que nunca me acontecera antes nem nunca mais me aconteceu depois, não que eu me lembre assim tão vivamente. Entrei em tal estado de graça numa barbearia qualquer para um simples corte de cabelo e gostei muito do trabalho de corte, como nunca antes nem depois me lembro de ter gostado. E foi uma profusão de coisas simples assim a me dar gosto atrás de gosto, o dia inteiro.
Eu era um jovem universitário, dava umas aulas pra ganhar a vida, nada muito de mais. Estava casado, e o casamento (ainda) ia muito bem. Também, era casamento bastante jovem e o primeiro. Eu ganhava mal à beça com minhas aulas, mas elas eram boas, bem melhores que as ocasionais de hoje. Claro que então eu sabia muito menos do que agora, mas tinha era muito gás, energia e entusiasmo pra dar e vender. Isso é coisa já não tenho mais não é de hoje, acho que perdi definitivamente. Sequer espero recuperar. Tivesse permanecido naquele primeiro emprego docente e a lei de então não tivesse mudado, pelas minhas contas, teria entrado com um pedido de aposentadoria em 2002, ou seja, dez anos atrás. Pelas regras de agora, só farei isso em 2021. Desse ponto de vista, nada mudou a meu favor.
É, mas esse trinta e um de agosto tão especial a que agora, mais que uma idade de Cristo depois, me refiro foi um dia em que me senti muito feliz, muito de bem com a vida e até mesmo menos mortal. Senti-me desse jeito por um motivo que depois ainda se repetiu por meia dúzia de vezes, em diferentes épocas e circunstâncias, todas elas sempre muito emocionantes, mas nunca exatamente como nessa. Simplesmente, eu estava sendo pai pela primeira vez.
Vi minha filha bem antes do horário de visita no hospital onde ela nascera, com coisa de uns dez, quinze minutos de nascida. Invadi todos os recintos daquela maternidade, ignorando solenemente as várias advertências de “não pode entrar aí não”, até finalmente ver Juliana, através de quem também tive mais tarde inaugurada minha condição de avô em 2000, eu aos 44 anos. Coincidentemente, fui pai por primeira vez aos 22, mesma idade que tinha a própria Juliana quando deu meu primeiro netinho, o Pedro Henrique, à luz.
Pedro Henrique era e ainda é um amor de menino, inteligente e comunicativo que só ele. Lembro perfeitamente da primeira vez que o vi (foram bem poucas as vezes que o vi), ele ainda bebê de colo. Ao me ver, ele abriu um sorriso que enquanto viver tenho certeza que lembrarei. Então, aquele bebê portador de DNA meu dava um sorriso que dizia tudo sobre amizade (que logo traduzi e interpretei logo como “eu gostei muito de você, viu vovô?”), isso num momento em que ele ainda nem sabia falar. Não sabia mas com aquele sorriso falou e disse tudo e mais qualquer coisa. Veio ele em seguida ao meu colo e cadê que queria sair. Nem pro da tia-avó dele, nem pro da avó materna, nem pro de mais ninguém presente ali. Só aceitou mesmo sair do meu pro colo da mãe dele, e ainda assim com um pouquinho relutância, ainda. Juliana também teve depois Melissa, minha segunda neta.
No mencionado primeiro casamento, fui ainda pai de Danusa (que tem duas filhas, Olivia [minha terceira neta] e Violeta [minha quarta neta]) e depois de Brenda (mãe do Theo, meu sexto e por enquanto mais novo neto, dado à luz no dia seguinte ao do meu quinquagésimo sexto aniversário, no mês corrente).
“Três meninas do Brasil, três corações democratas, três modernas arquiteturas, três simpatias mulatas”. Versos do Fausto Nilo que parecem referir-se, pra mim, ao que foi meu primeiro casamento, com esta série feminina.
Anos depois, tive um outro casamento com prole. Desta vez, uma série masculina: Ernani(de 88), Victor(de 89, pai este ano de Victor, meu quinto neto) e Cícero, que completou vinte anos ontem [parabéns atrasados por aqui, filho] .
Num terceiro casamento ainda fui pai de meu caçula e homônimo, que desempatou minha descendência de primeira geração pro lado masculino.
Mas por que cargas d'água estou hoje remexendo nesse acervo de dados autobiográficos? E por que é que estou blogando aqui no Bonde tantas reminiscências e considerações?
Sei lá, me deu na veneta. Deve ser porque hoje ainda é trinta e um de agosto.
Só pode.
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sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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30 comentários:
Que bom saber de ti, de teus filhos, tua vida, teus netos. E tens um monte também!! tenho6, todos homens e chegam de 4 filhos(m 2 meninas e 2 meninos).
É bom recordar assim!! Lindo fds! abração ,tudo de bom,chica
Obrigado, Chica. Então, em sua descendência, o lado feminino saiu perdendo. Está representado apenas na primeira geração. Mas no fim tá tudo certo. E se for verdade que há mais mulheres que homens na população, você até contribuiu para o equilíbrio. Lindo fim de semana, abração e tudo de bom pra você também.
Dos netos todos, me apaixonei pelos nomes Violeta e Theo. Se eu tivesse um menino se chamaria Theo, certamente.
Gostei imensamente de ler o seu Trinta e Um de Agosto, que foi tão especial lá atrás, espero que outros tantos venham.
Beijo, João... Prosa mais bacaninha essa.
Agradecido por sua apreciação desta prosa e dos nomes de meus netos.
Beijo, Milene...
Ora ainda bem que lhe deu para as recordações. Assim o fiquei conhecendo bem melhor.
Que toda a sua descendência seja feliz e lhe dê sempre todo o carinho.
Bom fim de semana e parabéns a quem aniversariou(mesmo atrasados, rrrs)
Muito agradecido, São, por sua visita, leitura e comentário.
Bom fim de semana igualmente para você.
Parabéns aos filhos e netos. Parabéns ao "patriarca". E que os agostos sejam-te sempre a gosto.
Abraços.
RR, que prazer esse seu passeio de bonde hoje. Não faço a mínima ideia de se isso é numerologicamente significativo, mas o que li lá em cima na hora do seu embarque foi "1 – 7 de 7". Parece que tinha mesmo que ser você o sétimo comentarista do presente post, pra me lembra lá d@s sete-setes.
Todas as recíprocas aplicáveis são verdadeiras.
Abraço
Caro João Esteves,
primeiramente parabéns pelo legado. Andei "fuçando" o Bonde andando e do gostei que li. Virei mais vezes...
Muita paz!!
Cristiano, bem vindo ao Bonde.
Grato pela apreciação.
Já fui a um de seus blogs, que passei a seguir.
Está aberto o diálogo.
Muita paz pra você também.
Seu relato é belo, principalmente na emoção que demonstrou sentir quando do nascimento de sua primeira filha. Deixou claro o quanto tudo se coloriu em sua vida, ficando a data gravada com esse significado especial.
Você foi corajoso e não desistiu de tentar encontrar sua verdadeira parceira, casando-se várias vezes. E foi abençoado com filhos e netos. Que a vida não deixe de lhe sorrir. Bjs.
Ilustre passageira Marilene, obrigado pelo passeio de bonde e comentário deixado, que atesta sua apreciação.
Que a vida também não deixe de lhe sorrir.
Bjs.
Olá João!
Fiquei feliz com sua visita e vim correndo agradecer as palavras lá deitadas. Vejo por aqui amigos em comum o que me deixa mais à vontade para subir nesse bonde. Chego numa postagem comemorativa que também me ajudou a conhecer um pouco mais de você, sua história...netos moço?! Ainda não tenho, mas espero um dia poder compartilhar dessa benção! Volte João sempre que quiser e puder...reservei um lugar, amorosamente, procê!
Beijuuss n.a.
Bem vinda ao Bonde, Regina. Obrigado por seguir. Estou também seguindo seu Divã. Então, você passeia aqui e eu me psicanaliso lá, combinadíssimos, não? Avô, sim, de meia dúzia já. Acho que você também gostará da condição avoenga, quando chegar sua vez. Certamente ainda voltarei a seu interessante blog. Beijuuss
Volto aqui, João pra te agradecer pelo carinho..Já sabes o meu jeito de escrever e qualquer dia, estarei de volta com ele lá no Quiosque! abração, linda nova estação! chica
Abração, linda nova estação pr'ocê também, cara amiga Chica, ilustre passageira e comentarista alfa e ômega deste post.
Foi bom saber um pouco da sua
família. Desejo tudo de bom
para todos. Bj
Irene Alves
Irene, agradeço o passeio de bonde e comentário deixado. Também lhe desejo tudo de bom extensivo aos seus. Bj
Olá João,
Que trajetória familiar, hein?
O momento do nascimento do primeiro filho é mesmo marcante e inesquecível. Coloca qualquer pai de primeira viagem em estado de graça. O mesmo acontece com o nascimento do primeiro neto.
Fatos importantes merecem sair do arquivo da memória para nos emocionar.
Deliciosa prosa.
Felicidades para esta grande família e que o dia 31 de agosto continue a ser portador de grandes alegrias para você.
Agradeço-lhe a gentileza da visita. Volte sempre. Será um prazer recebê-lo.
Abraço.
Vera,obrigado pelo passeio de Bonde. Ao seu blog com certeza retornarei mais vezes. O prazer de receber é garantidamente recíproco.
Abraço
João,
Eu tenho apenas uma filha, ainda criança. Fico imaginando um dia ser avó! Vou adorar.
Bjs
Você vai gostar mesmo, e muito, cara Sissym. Ver nossa descendência sair da idade pediátrica e depois procriar é um júbilo e também um espanto: como o tempo passa! Obrigado pelo passeio.
Bjs
Opa! Só hoje li essa historinha da sua vida... Menino! Perdi a quanta de quantas vezes você pai. Que disposição!!!
Abraço.
Laís, só hoje li seu comentário aqui. Pois é, foram sete os filhos de meus três casamentos com prole.
Obrigado pela visita.
Abraço.
sINCERAMENTE, fiquei emocionada com o pequeno resumo de sua vida, aliás, uma vida muito profícua na arte de amar e de frutificar...
muito prazer com sua deliciosa histórinha de vida, narrada tão singelamente.Muita gente não tem tanto para contar.
Espéro que tenhas muitos 31 de agosto com tantas alegrias. MUITO PRAZER E OBRIGADA pela sua visita.um abraço
paulista da madrugada.
sINCERAMENTE, fiquei emocionada com o pequeno resumo de sua vida, aliás, uma vida muito profícua na arte de amar e de frutificar...
muito prazer com sua deliciosa histórinha de vida, narrada tão singelamente.Muita gente não tem tanto para contar.
Espéro que tenhas muitos 31 de agosto com tantas alegrias. MUITO PRAZER E OBRIGADA pela sua visita.um abraço
paulista da madrugada.
sINCERAMENTE, fiquei emocionada com o pequeno resumo de sua vida, aliás, uma vida muito profícua na arte de amar e de frutificar...
muito prazer com sua deliciosa histórinha de vida, narrada tão singelamente.Muita gente não tem tanto para contar.
Espéro que tenhas muitos 31 de agosto com tantas alegrias. MUITO PRAZER E OBRIGADA pela sua visita.um abraço
paulista da madrugada.
Paulista, sou eu quem agradece sua visita e seu apreciativo comentário.
parabéns, meu amigo, pela sua arte, que demonstra as nuances e as suas matizes mais variadas para mostrar que vale a pena viver. Meu fraternal a abraço.
Raymundo Cortizo Perez
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